Folha de S. Paulo


PF liga ex-ministro Alexandre Padilha a laboratório de doleiro preso

Novo relatório da Polícia Federal sugere que o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha indicou no ano passado um ex-assessor para dirigir o laboratório farmacêutico Labogen, controlado pelo doleiro Alberto Youssef.

A suspeita da PF é baseada numa mensagem enviada pelo deputado André Vargas (PT-PR) ao doleiro por telefone celular no dia 28 de novembro e interceptada pela PF. Segundo o relatório, Vargas deu o nome e o número do ex-assessor e escreveu: "Foi Padilha que indicou".

A PF diz que o Padilha citado é "possivelmente" o então ministro da Saúde, que deixou o cargo neste ano para se candidatar ao governo de São Paulo pelo PT. Padilha negou ter indicado o ex-assessor para o Labogen.

Segundo a polícia, o dono do telefone indicado na mensagem interceptada é Marcus Cezar Ferreira de Moura, que em 2011 foi nomeado por Padilha para a função de coordenador de promoção e eventos do Ministério da Saúde.

Na época em que essa mensagem foi interceptada, o Labogen negociava sua entrada numa parceria com o ministério para produzir um medicamento considerado estratégico pelo governo, um projeto que poderia render até R$ 31 milhões em cinco anos.

Vargas e Youssef estavam à procura de um executivo para o laboratório e, de acordo com o relatório da PF, queriam achar alguém que "não levantasse suspeitas das autoridades fiscalizadoras".

No projeto analisado pelo Ministério da Saúde, o Labogen associou-se ao laboratório da Marinha e a outro laboratório privado, o EMS, por sugestão do próprio ministério, de acordo com outras mensagens interceptadas pela PF.

A parceria foi aprovada pelo ministério em dezembro e cancelada em março, antes que fosse assinado um contrato, depois que a Folha revelou a ligação do doleiro com o Labogen e os indícios de que André Vargas tinha usado sua influência política para patrocinar a parceria.

Alberto Youssef está preso desde março, acusado de comandar um esquema de lavagem de dinheiro que pode ter movimentado ilegalmente R$ 10 bilhões nos últimos anos.

Nesta semana, ele se tornou réu numa ação em que é acusado de ter usado o Labogen e outras empresas de fachada para enviar US$ 444,7 milhões para o exterior ilegalmente.

Em outra mensagem interceptada pela polícia, de 26 de novembro, André Vargas disse ao doleiro: "Falei com pad agora e ele vai marcar uma agenda comigo". Segundo a PF, "Pad" pode ser Padilha.

O relatório da PF cita também contatos que o doleiro teve com os deputados Cândido Vaccarezza e Vicente Cândido, do PT de São Paulo. Segundo a polícia, Youssef era esperado por Vaccarezza numa reunião que ele teve em sua casa em Brasília com Vargas e o ex-ministro Pedro Paulo Leoni Ramos, que fez parte do governo Fernando Collor e tinha interesse em comprar o Labogen.

Vaccarezza disse que Vargas pode ter ido a sua casa com Alberto Youssef porque ele é vizinho do deputado em Brasília, mas negou ter se reunido com o doleiro.

Em outra mensagem analisada pelo relatório da polícia, de setembro de 2013, Vargas diz ao doleiro que precisa "captar". Youssef conta que um executivo que trabalhava com ele esteve com Vicente Cândido em São Bernardo, mas diz que a prospecção "não andou". Vargas responde então que "vai atuar".

Cândido afirmou ter conhecido o doleiro numa viagem a Cuba, mas afirma não se lembrar de ter encontrado seu emissário em São Bernardo.

Segundo a PF, seis dias antes de ser preso, Youssef representou Vargas numa reunião no Funcef, o fundo de pensão da Caixa Econômica, que tem patrimônio de R$ 52 bilhões. Quem recebeu o doleiro foi Carlos Borges, diretor de participações. Não se sabe do que conversaram.

Youssef é suspeito de comandar mega esquema de lavagem de dinheiro com ramificações políticas e na Petrobras. O relacionamento com o doleiro já teve consequências para Vargas, que renunciou ao cargo de vice-presidência da Câmara, sofre pressão do próprio partido para renunciar ao mandato e está ameaçado de expulsão da sigla.

Vargas começou a cair em desgraça na cúpula do partido após a Folha revelar que ele usou um jatinho emprestado pelo doleiro Alberto Youssef.

Editoria de Arte/Folhapress

OUTRO LADO

O ex-ministro Alexandre Padilha disse em nota não ter indicado "nenhuma pessoa para a Labogen" e afirmou repudiar o envolvimento do seu nome na investigação da PF.

Padilha diz que a busca por um executivo "que não levantasse suspeitas das autoridades fiscalizadoras", como diz o relatório da PF, mostra que o doleiro estava preocupado com "filtros e mecanismos de controle" que ele criou no ministério, "justamente para evitar ações deste tipo".

O deputado federal André Vargas (PT-PR) afirma que Padilha nunca indicou ninguém a ele, "nem para este eventual emprego [na Labogen] nem para outra função": "Estou preparado para responder a todos questionamentos nos foros competentes onde terei direito à defesa e ao contraditório. Vazamentos seletivos e fora do contexto não podem servir a prejulgamento de que tenho sido vítima".

O deputado federal Cândido Vacarezza (PT-SP) afirmou que não pode "negar peremptoriamente" que o doleiro Alberto Youssef tenha passado pela casa dele, pois Vargas é vizinho dele em Brasília. Ele negou, porém, que tenha se reunido com Youssef.

O deputado federal Vicente Cândido (PT-SP) diz ter conhecido o doleiro em Cuba, em 2008 ou 2009. Sobre os negócios que buscavam em São Bernardo, afirma: "É preciso ver com o Vargas do que se trata. Eu não me lembro".

A GPI e Leoni Ramos não vão se manifestar até ter acesso às investigações. Procurados pela Folha, Marcus Cezar Ferreira de Moura e o Funcef não quiseram se pronunciar.

Colaboraram FLÁVIO FERREIRA e LUCAS FERRAZ, de São Paulo


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