Folha de S. Paulo


Ligado a doleiro, André Vargas desafia cúpula do PT

Sob ameaça de expulsão do PT e pressionado pelo partido a abandonar o mandato de deputado federal, André Vargas (PT-PR) voltou a dizer ontem em conversas reservadas que não renunciará e que conta com o apoio de pelo menos um terço da bancada petista na Câmara.

Em dura conversa com o presidente do PT, Rui Falcão, o deputado disse que tem condições de se defender e rechaçou o pedido do dirigente para que abandonasse o mandato em nome da defesa da imagem da legenda.

A interlocutores, Vargas tem dito que sua "banda" está unida. Nas contas do petista, cerca de 30 dos 88 deputados federais do partido apoiam sua decisão de permanecer com o mandato.

Então vice-presidente da Câmara, Vargas começou a cair em desgraça na cúpula do partido após a Folha revelar que ele usou um jatinho emprestado pelo doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal na Operação Lava Jato sob suspeita de participar de esquema bilionário de lavagem de dinheiro.

Vargas também aparece nas investigações da Polícia Federal tratando de um contrato de interesse do doleiro no Ministério da Saúde. O petista acabou renunciando à vice-presidência da Câmara e afirmou que renunciaria ao mandato, mas recuou logo em seguida.

Em resposta à resistência de Vargas, Falcão disse que será inevitável a instauração de uma comissão de ética no partido, na qual o deputado pode ser punido com a expulsão da legenda.

Editoria de Arte/Folhapress

DANO ELEITORAL

O presidente do PT tem dito a interlocutores que a insistência do deputado em permanecer na Câmara desgasta a imagem da sigla e pode prejudicar a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff.

Também são consideradas sensíveis nesse caso as campanhas dos petistas Alexandre Padilha ao governo de São Paulo e Gleisi Hoffmann ao governo do Paraná, mesmo Estado de Vargas.

Padilha era o ministro da Saúde na época em que o deputado e Youssef aparecem nos diálogos interceptados pela PF discutindo um possível contrato do laboratório Labogen, ligado ao doleiro, com a pasta.

Além de estar ameaçado de expulsão pelo PT, Vargas é alvo de processo de cassação do mandato no Conselho de Ética na Câmara.

Ontem, o relator no conselho, Júlio Delgado (PSB-MG), deu parecer favorável para investigar o deputado. No entanto, o deputado Zé Geraldo (PT-PA) pediu vista, o que empurrou a votação do parecer para a próxima terça-feira. O relatório preliminar é o primeiro passo do processo de cassação.

MANOBRA

Apesar de ter dito durante a reunião que a interrupção não estava sendo feita a pedido do partido, Zé Geraldo admitiu que teve o objetivo de dar mais tempo para Vargas pensar sobre uma possível renúncia ao mandato ou, até mesmo, para preparar sua defesa no colegiado.

Para Júlio Delgado, a manobra estende "a sangria" e tem o objetivo de evitar que o processo seja concluído antes do recesso parlamentar, que começa em julho. No segundo semestre, a Câmara deverá ficar esvaziada devido às eleições, o que tende a favorecer uma absolvição, já que para haver cassação é necessário o voto no plenário de pelo menos 257 dos 513 deputados.

Além da solidariedade a Vargas, petistas que o apoiam se uniram para evitar que o grupo do deputado Paulo Teixeira (PT-SP) assuma a vice-presidência da Câmara que ficou vaga após a renúncia do paranaense.

O principal nome defendido pelos aliados de Vargas, como Cândido Vaccarezza (PT-SP), é o do deputado e ex-ministro Luiz Sérgio (PT-RJ). No entanto, Teixeira, que é ex-líder do PT na Câmara, também pleiteia a vaga.


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