Folha de S. Paulo


USP anula demissão de professora desaparecida na ditadura

A Congregação do Instituto de Química da USP decidiu nesta quinta-feira (17) por unanimidade revogar a demissão da docente e militante da ALN (Ação Libertadora Nacional) Ana Rosa Kucinski, desaparecida há 40 anos.

Segundo Luís Henrique Catalane, diretor do Instituto de Química, a família da professora trouxe à época "elementos factuais" que provavam seu sequestro mas que "não foram levados em conta" pela instituição.

Em outubro de 1975, mais de um ano após o seu desaparecimento, Ana Rosa foi demitida pelo Instituto de Química sob a justificativa de abandono de emprego.

"A congregação - instância deliberativa mais alta do instituto - decidiu anular a decisão de 1975", afirmou o diretor. Para ele, "foi um equívoco muito feio" declarar a demissão de Ana Rosa por abandono de emprego. "Porque ela não abandonou [o emprego], ela foi presa".

A decisão de 1975 levou em conta uma nota oficial do Ministério da Justiça pela qual a professora e o seu marido, Wilson Silva, desaparecido junto com ela, eram "terroristas" e estavam "foragidos"

Depoimentos de agentes da repressão afirmam que o casal foi sequestrado em 22 de abril de 1974 e levado para um centro de interrogatório e tortura em Petrópolis (RJ).

O ex-delegado de polícia Cláudio Guerra afirma que Ana Rosa, então com 32 anos, foi assassinada ali e que seu corpo foi incinerado no forno de uma usina de açúcar.

Em carta lida na reunião das comissões da verdade estadual e nacional, o irmão de Ana Rosa, o jornalista Bernardo Kucinski, professor da USP, afirma que o relatório da Marinha, exibido em 1993, que acusa sua irmã de trabalhar para o Serviço Secreto Israelense, é "infame... Desinformação e difamação das vítimas da repressão". O documento acusa também Kucinski de participar do esquema.

A reunião de ontem em São Paulo contou com a participação de 57 integrantes da congregação e durou cerca de duas horas.

Além da revogação da demissão de Ana Rosa ficou decidido, também por unanimidade, a transmissão de um pedido formal de desculpas à família Kucinski.

Na terça-feira (22), data que marca os 40 anos do desaparecimento de Ana Rosa, um memorial com uma escultura em sua homenagem será inaugurado no Instituto de Química da Universidade de São Paulo.

Em 1988, a professora já havia sido homenageada pelo instituto com a criação da Associação Atlética Acadêmica Ana Rosa Kucinski (AAAARK).

Divulgação
Ana Rosa Kucinski Silva, militante da ALN
Ana Rosa Kucinski Silva, militante da ALN

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