Folha de S. Paulo


Escola baiana troca de nome e vê Marighella como herói

A troca de nome de uma escola estadual de Salvador tornou-se um ato de desagravo ao baiano Carlos Marighella, um dos líderes da luta armada contra a ditadura militar, assassinado em São Paulo em 1969 por por agentes do Dops (Departamento de Ordem Política e Social).

Até então chamada de General Emílio Garrastazu Médici, terceiro presidente do regime militar, a escola, que fica num bairro de classe média da capital baiana, foi rebatizada. A partir desta sexta-feira (11) passou a se chamar Carlos Marighella.

No ato solene, que teve a presença do governador Jaques Wagner (PT), foi marcado por clamores pelo reconhecimento de Carlos Marighella como herói nacional.

Mateus Pereira/GOVBA
Fachada do Colégio Estadual Carlos Marighella
Fachada do Colégio Estadual Carlos Marighella

Em discurso, o governador citou Tiradentes e Zumbi dos Palmares como exemplos de "verdadeiros heróis brasileiros". E disse que homens como Carlos Marighella devem ter o seu devido reconhecimento: "Ele foi um apaixonado pela liberdade".

Também presente, o filho de Marighella disse que a mudança de nome da escola foi uma das homenagens mais representativas ao seu pai: "É uma atitude que nos reconforta, como se tivesse valido a pena chegar até aqui", diz o advogado Carlos Marighella Filho.

Na plateia, além de alunos e professores, marcaram presença deputados, vereadores, ex-presos políticos e membros do movimento de juventude ligado ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Estes últimos comandavam gritos de guerra em homenagem ao guerrilheiro.

NOVOS NOMES

A iniciativa de rebatizar a escola foi aprovada em votação em dezembro do ano passado. A decisão foi referendada pela Secretaria de Educação do Estado em fevereiro deste ano.

O secretário de Educação da Bahia, Oswaldo Barreto, diz que a mudança pode ser a semente para iniciativas semelhantes em outras escolas baianas, "desde que partam da comunidade".

Em Salvador, pelo menos dois colégios estaduais discutem a retirada dos nomes de presidentes do período militar: o Colégio Estadual Humberto Alencar Castelo Branco, no Subúrbio Ferroviário, e o Colégio Estadual Presidente Costa e Silva, na Ribeira.

Nomes como o de Nelson Mandela e da beata baiana Irmã Dulce surgem como novas opções para rebatizar as escolas.

A troca do nome da escola para Carlos Marighella, contudo, ainda não foi assimilada pela comunidade. Quatro moradores do entorno ouvidos pela reportagem referiram-se ao colégio como "Garrastazu".

Entre os alunos, a mudança foi aprovada: "Trocamos um ditador por um herói", diz Matheus Bispo, 16, aluno do 3º ano do ensino médio.


Endereço da página:

Links no texto: