Folha de S. Paulo


Pressionado por ligação com doleiro, deputado petista pede licença do cargo

O vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), apresentou no início da tarde desta segunda-feira (7) um pedido de licença não remunerada do cargo de deputado por 60 dias. Por consequência, ele também se afasta da vice-presidência da Casa.

Acusado de envolvimento com o doleiro preso Alberto Youssef, no período Vargas não receberá o salário de R$ 26.723,13, além de benefícios. Ele também não receberá a verba indenizatória paga aos congressistas e terá que exonerar todos os servidores do seu gabinete, que permanecerá fechado no período de afastamento.

Na carta apresentada à Secretaria-Geral da Mesa, Vargas alega motivos particulares, mas afirma estar "à disposição" da Câmara para quaisquer esclarecimentos. Se Vargas voltar ao mandato, ele retoma também o cargo de vice-presidente. Seu afastamento acontece até o dia 5 de junho.

De acordo com a Constituição e com o regimento interno da Casa, um deputado pode se afastar do mandato por até 120 dias, por motivos particulares, de saúde e por atividades político-partidárias.

Na semana passada, a Folha revelou que o petista trocou mensagens com o doleiro Alberto Youssef, preso no último dia 17 sob acusação de lavagem de dinheiro, remessa ilegal de dólar e financiamento ao tráfico de drogas. Nas conversas, os dois combinaram o empréstimo de um jatinho para o deputado viajar com a família e conversaram sobre a negociação de um laboratório com o Ministério da Saúde.

No fim de semana, a revista "Veja" mostrou outras mensagens interceptadas pela Polícia Federal em que Vargas prometia ajudar o doleiro. "Acredite em mim. Você vai ver o quanto isso vai valer. Tua independência financeira e nossa também, é claro", dizia uma das mensagens enviadas por Youssef.

Sergio Lima-03.dez.2013/Folhapress
O deputado André Vargas(PT-PR) pediu licença não remunerada da Câmara
O deputado André Vargas(PT-PR) pediu licença não remunerada da Câmara

REPRESENTAÇÃO

A oposição na Câmara irá apresentar ainda hoje uma representação para que Vargas responda a um processo no Conselho de Ética. De acordo com o líder do PPS, Rubens Bueno (PR), as novas denúncias tornaram a situação de Vargas insustentável. "Quando ele fez o pronunciamento, ele se explicou sobre viagens de avião. Agora surgiram fatos novos", disse. Assinarão o pedido de cassação o PSDB, o DEM e o PPS.

Na semana passada, Vargas chegou a subir à tribuna do Plenário para se explicar. Na ocasião, ele admitiu ter sido um equívoco a viagem que fez no jatinho. "Em relação ao avião, eu reconheço: fui imprudente. Foi um equívoco. Deveria ter exigido um contrato. Deveria ter quitado. E peço desculpas aqui por ter exposto a minha família. [...] Compareço aqui com serenidade, com o coração machucado, mas leve", disse o deputado na última quarta-feira (2).

Mesmo estando ausente do mandato, o Conselho de Ética poderá aceitar a representação e abrir o procedimento de investigação. Se o conselho entender que Vargas cometeu atos ilegais, ele pode até perder o mandato. Nos bastidores, cogita-se que Vargas possa renunciar ao mandato antes do processo ser iniciado.

Editoria de Arte/Folhapress

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