Folha de S. Paulo


Deputado petista André Vargas disse que iria ajudar doleiro, diz revista

O deputado André Vargas (PT-PR), vice-presidente da Câmara, disse, em mensagens interceptadas pela Polícia Federal, que iria ajudar o doleiro Alberto Youssef, preso no último dia 17 sob acusação de lavagem de dinheiro, remessa ilegal de dólar e financiamento ao tráfico de drogas.

Nas mensagens, reveladas pela revista "Veja", o doleiro diz: "Acredite em mim. Você vai ver o quanto isso vai valer. Tua independência financeira e nossa também, é claro."

Em outro trecho, Youssef afirma: "Tô no limite. Preciso captar", apontando que precisa de recursos. Vargas responde: "Vou atuar". Youssef detalha: "Me ajude. Preciso. Hoje vou na indústria. Visita dos técnicos do MS [Ministério da Saúde] às 14h30. Te informo depois como foi".

Após a inspeção, o doleiro avisa: "Fomos bem". Uma das hipóteses da Operação Lava Jato é de que o deputado e o doleiro sejam sócios num laboratório chamado Labogen.

A Folha revelou na última quinta-feira (3) que um financiamento de R$ 31 milhões do Ministério da Saúde para a Labogen foi obtido por meio de "contatos políticos", segundo um dos sócios da empresa, Leonardo Meirelles, que resolveu colaborar com a PF.

Mensagens de celular também reveladas na última quinta apontam que o deputado teve contatos com com o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do ministério, Carlos Gadelha, para obter o financiamento. "Eles garantiu que vai nos ajudar", escreveu Vargas ao doleiro na mensagem.

Uma viagem de Vargas de jatinho, de Londrina a João Pessoa, também foi paga por Youssef. Ela custa R$ 100 mil. A Labogen é um laboratório quebrado, com dívidas de R$ 24 milhões, quando obteve o financiamento do Ministério da Saúde para produzir citrato de sildenafila, usado em hipertensão pulmonar.

A parceria foi obtida em dezembro, quando Alexandre Padilha (PT), candidato ao governo paulista, era o ministro. A Folha já havia revelado e-mails apreendidos pela PF que mostram que um diretor do ministério incluiu a EMS, o maior laboratório do país, com faturamento de R$ 5,8 bilhões em 2012, como parceiro da Labogen, cuja folha de pagamento não passa de R$ 28 mil, segundo a PF.

A EMS produziria 35 milhões de comprimidos ao ano, por cinco anos. A PF trabalha com a hipótese de que a Labogen foi usada na operação para pagar propina. O financiamento foi cancelado depois da revelação dos e-mails. A Saúde diz que irá investigar a parceria. Vargas disse em nota que é amigo do doleiro e que só o encaminhou ao ministério, como faz com outros pleitos.


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