Folha de S. Paulo


No Rio, exposição sobre ditadura faz público refletir sobre liberdade

A Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP-Fase) apresenta até 30 de junho a exposição "Fica Decretado que Agora Vale a Verdade", que integra a programação da Comissão Estadual da Verdade sobre os 50 anos do golpe militar de 1964.

O título da exposição traz o primeiro verso do poema "Os Estatutos do Homem", do poeta amazonense Thiago de Mello. Preso durante a ditadura, Mello exilou-se no Chile, retornando ao país após o fim do regime militar. "A poesia é uma norteadora do projeto", esclareceu o coordenador de Projetos e Extensão da FMP-Fase, Ricardo Tammela.

"Como nós optamos por trabalhar o conceito da liberdade em contraposição ao golpe militar, Os Estatutos do Homem do Thiago acaba sendo esse norte, o roteiro. E as instalações acabam se inspirando na poesia", disse Tammela.

A exposição apresenta instalações audiovisuais e atividades interativas. A primeira instalação é composta de painéis com lenços que remetem aos lenços usados pelas pessoas para enxugar as lágrimas pela perda de entes perdidos.

Cada lenço tem um trecho de músicas da resistência, compostas durante a ditadura, ou trechos de depoimentos dados para a Comissão da Anistia por presos que foram torturados. "Para você acessar a instalação, há uma trama de elástico, como se fosse uma cama de gato [jogo do barbante]. Você precisa mexer no elástico para conseguir entrar da instalação, como se você estivesse vencendo as resistências que te fazem seguir adiante", informou o coordenador.

A segunda instalação é uma sala escura, onde se ouve, sendo declamada, toda a poesia de Thiago de Mello. No meio do caminho, há um monitor de televisão que fica passando imagens que representam os 50 anos do golpe militar. "Em cada canto da sala tem uma silhueta alegoricamente amarrada. As quatro silhuetas estão divididas em foto, nome, organização política e data de cada um dos desaparecidos na Casa da Morte, em Petrópolis, totalizando 32 pessoas", disse Tammela.

Na terceira instalação, o visitante "sai do sufoco que a sala escura provoca" e é convidado a deixar a sua reflexão sobre liberdade, sobre o que ele tem feito para a liberdade, qual é a causa que defende, o que ele pensa dos tempos atuais, a partir de uma leitura crítica desse período da história brasileira.

Durante o tempo inteiro, o público interage com a mostra. Ricardo Tammela explicou que a ideia foi fugir da metodologia expositiva tradicional, que trabalha a ordem cronológica dos fatos. Ele optou, então, por fazer uma exposição opinativa. "Ela é uma crítica à ditadura, mas é uma crítica que convida as pessoas a refletir e a fazer essa ponte com o tempo atual. Essa foi nossa preocupação".

O coordenador de Projetos e Extensão da FMP-Fase analisou que a liberdade que se vivencia hoje no Brasil ainda é muito frágil, na medida em que há grupos que não têm acesso aos direitos, sofrem violência e perseguição porque fizeram alguma opção diferente na vida, seja religiosa, afetiva, entre outras.

O material utilizado na exposição foi cedido pela Comissão Estadual da Verdade. Segundo Tammela, a mostra reforça também o movimento pela transformação da Casa da Morte de Petrópolis em um centro de referência da memória da ditadura.

A entrada é gratuita e a exposição pode ser vista de segunda a sábado. O centro cultural da FMP-Fase fica localizado na avenida Barão do Rio Branco, 1.003, no centro do município, na região serrana fluminense.


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