Folha de S. Paulo


Papa declara padre José de Anchieta como santo

O papa Francisco oficializou na manhã desta quinta-feira (3) a canonização de José de Anchieta, que se torna assim o terceiro santo brasileiro: são José de Anchieta.

Segundo a Rádio Vaticano, canal da Santa Sé, o papa ouviu um relatório sobre a vida e a obra do chamado apóstolo do Brasil e, em seguida, assinou o decreto que reconhece Anchieta como santo.

A cerimônia encerra um longo processo de canonização do Vaticano, iniciado em 1597, logo após a morte do jesuíta nascido nas Ilhas Canárias. Anchieta veio para o Brasil em 1553 e participou da fundação do Colégio de São Paulo de Piratininga, berço da capital paulista.

A assinatura do decreto de canonização estava prevista para ontem, mas foi adiada em razão da agenda do papa, segundo o arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer.

Por isso, eventos que estavam marcados para esta quarta-feira (2) na capital paulista foram mantidos. D.Odilo Scherer presidiu duas cerimônias de homenagem à canonização, no Pátio do Colégio e na catedral da Sé. Uma procissão entre os dois locais, também com a presença do arcebispo da cidade, está marcada para este domingo (6), e será seguida por uma missa de ação de graças pela canonização de Anchieta.

Para o arcebispo, que concedeu entrevista coletiva nesta quarta-feira (2), a demora de 417 anos no processo de canonização de Anchieta decorreu da difamação sofrida pelos padres jesuítas no século 18, o que levou à expulsão da ordem do Brasil em 1759.

Outro entrave para o processo era a falta da comprovação de milagres. Tradicionalmente, são necessários pelo menos dois para que alguém seja declarado santo –um para a beatificação e outro para a canonização. Anchieta não tem nenhum atestado de realização de milagres, apesar de serem várias as narrativas históricas a esse respeito.

O milagre, porém, foi dispensado pelo papa Francisco -João Paulo 2º fez o mesmo quando confirmou a beatificação de Anchieta. "Milagre não é o mais importante. Não é o santo quem faz o milagre, é Deus, por intercessão do homem", disse Scherer na quarta-feira (2).

O Brasil tem outros dois santos, Madre Paulina (nascida na Itália), canonizada em 2002, e Frei Galvão, que recebeu o título em 2007. Nascida na Itália, ela foi canonizada 60 anos após sua morte. Já no caso de Frei Galvão, único santo nascido no Brasil, a nomeação demorou 185 anos.

SANTO SEM MILAGRES

No Brasil, pelo menos três milagres atribuídos a Anchieta eram acompanhados pela Igreja Católica. Obstáculos como a falta de exames médicos dificultavam a comprovação desses feitos –para que os milagres sejam reconhecidos, é preciso provar que não existe explicação científica para o fenômeno.

A dificuldade em comprová-los levou a uma mudança de estratégia. A alternativa foi investir na amplitude da devoção e provar que Anchieta já tinha seguidores e fiéis. Deu certo.

A concessão do título de santo sem a comprovação de milagres não é inédita. Em dezembro passado, o próprio Francisco declarou santo outro jesuíta sem milagres reconhecidos, o padre Pierre Favre. Já o papa João 23, que também será canonizado em abril, teve um milagre reconhecido quando virou beato, mas será declarado santo sem uma segunda ocorrência.

A canonização de Anchieta, por decreto, foi decidida após um pedido da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) feito diretamente ao papa.

Apesar de ter nascido nas Ilhas Canárias, Anchieta ficou conhecido como o "apóstolo do Brasil" por sua atuação no país. Além de ter participado da fundação de São Paulo, em 1554, ele esteve também no Rio de Janeiro, no Espírito Santo e na Bahia.

Editoria de Arte/Folhapress

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