Folha de S. Paulo


Senado cria CPI da Petrobras, mas início dos trabalhos é adiado

Numa resposta à oposição, PT e PMDB apresentaram nesta terça-feira (1º) pedido de criação de outra CPI (comissão parlamentar de inquérito) da Petrobras no Senado. O pedido, lido em sessão plenária desta tarde, inclui nas investigações temas que desgastam dois futuros adversários da presidente Dilma Rousseff nas eleições de outubro: o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador Eduardo Campos (PSB-PE).

Antes da apresentação do pedido de CPI dos governistas, o Senado já havia lido o pedido da oposição para investigar a Petrobras. A diferença entre os dois é que a CPI da oposição mira apenas a empresa estatal, enquanto a dos aliados de Dilma estende as investigações ao cartel do metrô em São Paulo e no Distrito Federal, a construção do Porto de Suape (PE) e a Cemig, empresa energética de Minas.

As duas CPIs, no entanto, correm o risco de não serem efetivamente instaladas. Embora as duas estejam criadas automaticamente com a leitura dos pedidos no plenário do Senado, o PT apresentou questionamento ao presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), acusando as duas comissões de não terem fato determinado.

O questionamento foi feito pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), ex-ministra da Casa Civil. Gleisi disse que o pedido da criação da CPI da oposição não tem "fato determinado", obrigatório para uma comissão de inquérito ser instalada.

Na prática, o pedido deixa nas mãos de Renan a decisão sobre a criação da CPI da Petrobras –fiel aliado do Planalto. Se Renan acatar o questionamento de Gleisi, nenhuma das duas comissões será instalada –porque ambas têm objetos semelhantes. Caso o presidente rejeite o pedido da ex-ministra, o governo vai trabalhar para esvaziar as investigações e focar nos temas que desgastam a oposição.

A petista argumentou que os quatro objetos de investigação da CPI não têm conexão entre si, por isso a comissão não deveria ser instalada. "São fatos estanques, desconexos, com um único fato em comum: todos se referirem à Petrobras", afirmou.

No pedido, a oposição afirma que a CPI vai investigar a compra da refinaria de Pasadena (EUA) pela Petrobras, o suposto superfaturamento de refinarias, irregularidades em plataformas e a suspeita de que empresa holandesa pagou propina a funcionários da estatal.

A CPI dos governistas inclui os quatro temas levantados pela oposição, além dos demais colocados para atingir os oposicionistas. No total, 32 senadores de partidos aliados do governo federal assinaram o pedido, incluindo toda a bancada do PT e parte do PMDB –principal aliado do Planalto.

REAÇÃO

Irritados com a manobra do governo, senadores da oposição reagiram ao novo pedido de criação de CPI. Líder do PSDB, o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) fez um apelo para que Renan negue o questionamento de Gleisi e deixe a minoria ter o "direito" de investigar denúncias que envolvem a Petrobras.

"Em nome da decência, dos direitos da oposição, das tradições democráticas, o PMDB não pode ser aqui um serviçal da senadora Gleisi Hoffmann. Eu não posso aceitar isso. Se querem investigar metrô, façam requerimento a parte. Não queiram grilar a nossa CPI. Chupins de CPI alheia", atacou o tucano.

Aécio desafiou Gleisi a apoiar CPI exclusivamente para investigar a refinaria de Pasadena. "Se nós quisermos investigar apenas Pasadena teremos a honra da assinatura da ilustre senadora? Claro que não. Ou é o simples fato de termos apresentado quatro denúncias graves?", questionou.

Gleisi disse esperar que Renan acate o seu pedido e impeça a instalação de ambas as CPIs. "Se o presidente entender que minha questão não é precedente, tem que valer a CPI mais ampla. Se for para se apurar apenas um fato, que se apure todos", atacou a petista.


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