Folha de S. Paulo


Exonerado, Cerveró ganhou elogios de conselho presidido por Dilma

Leo Pinheiro-21.mar.2014/Valor
Nestor Cerveró em 2007, quando pertencia à diretoria internacional da Petrobras
Nestor Cerveró em 2007, quando pertencia à diretoria internacional da Petrobras

Pivô da crise da Petrobras, Nestor Cerveró ganhou um prêmio de consolação e recebeu elogios do Conselho de Administração da Petrobras, presidido pela então ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), no mesmo dia em que ela diz ter tomado conhecimento de cláusulas omitidas na aprovação da compra da refinaria de Pasadena, em 2006.

Em março de 2008, os conselhos de administração da Petrobras e de sua subsidiária, BR Distribuidora, que têm a mesma composição, reuniram-se para promover uma troca de diretores. Primeiro, os conselheiros da petroleira decidiram exonerar Cerveró da diretoria internacional, nomeando para seu lugar Jorge Zelada.

O registro da reunião, de número 1.301, diz que o conselho "resolveu consignar em ata os agradecimentos do colegiado ao diretor [Cerveró] que ora deixa o cargo pelos relevantes serviços prestados à companhia, ressaltando sua competência técnica e o elevado grau de profissionalismo e dedicação demonstrados no exercício do cargo".

Naquele mesmo dia, segundo nota divulgada na semana passada pelo Palácio do Planalto, o conselho da Petrobras "tomou conhecimento da existência das referidas cláusulas [put option e Marlim] e, portanto, que a autorização para a compra dos primeiros 50% [da refinaria] havia sido feita com base em informações incompletas.

Dilma revelou que, se soubesse da existência das cláusulas no contrato de compra pela estatal da refinaria de Pasadena, "seguramente" não as teria provado e rediscutiria a operação. A cláusula put option determina que um sócio compre a parte do outro em caso de divergências. A Marlim definia uma rentabilidade mínima garantida para a Astra Oil, parceira da Petrobras no negócio.

Editoria de Arte/Folhapress

Ex-diretor da área internacional da Petrobras, Cerveró é apontado como o responsável pelo resumo "técnica e juridicamente falho'', que não trazia a informação das duas cláusulas, apresentado na reunião do conselho de administração, em 2006, que aprovou a compra da refinaria.

Cerveró acabou nomeado, no mesmo dia 03 de março de 2008, pelo conselho de administração da BR Distribuidora para ocupar o cargo de diretor financeiro, do qual foi demitido apenas na última sexta-feira, oito anos depois da aprovação da polêmica operação.

Perguntado pela Folha sobre o motivo de Cerveró não ter sido demitido à época quando Dilma soube das cláusulas e, sim, realocado para a subsidiária, o Palácio do Planalto disse que "ele perdeu a diretoria da holding Petrobras e foi transferido para uma subsidiária" naquela data.

Além disso, o Planalto disse em resposta à reportagem que, "em reunião posterior, em 20/06/2008, a diretoria executiva esclareceu ao conselho de administração que cláusulas contratuais referentes à compra da refinaria de Pasadena não constaram do resumo executivo que orientou a decisão de aquisição em 2006. As cláusulas, portanto, não haviam sido aprovadas pelo Conselho".

A saída de Cerveró da Petrobras em 2008, porém, estava mais relacionada a negociações políticas, segundo a Folha apurou. Para atender a pressões do PMDB da Câmara dos Deputados, o governo decidiu nomear para a diretoria internacional Jorge Zelada.

Daí a decisão de realocar Cerveró na BR Distribuidora. Um assessor que acompanhou as negociações na época destaca que o ex-diretor ganhou elogios exatamente porque estava saindo, naquele momento, mais por questões políticas do que técnicas. E que ele ganhou um posto importante dentro do grupo Petrobras como compensação.

COMPRA

A compra da refinaria de Pasadena é investigada pelo Tribunal de Contas da União, Ministério Público do Rio e pela Polícia Federal. A principal polêmica é o preço do negócio: US$ 1,18 bilhão pela unidade que havia sido, em 2005, comprada pela belga Astra Oil por cerca de US$ 42 milhões.

Em 2006, a estatal brasileira comprou 50% da refinaria da Astra por US$ 360 milhões. Depois, a Petrobras ainda teve de gastar mais US$ 820,5 milhões no negócio, pois foi obrigada pela cláusula put option a comprar os outros 50% de Pasadena.


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