Folha de S. Paulo


Gestão tucana em Roraima eleva dívida e investe menos

Reeleito em 2010 com margem estreita, o governador de Roraima, José de Anchieta Júnior (PSDB), chega ao final da gestão com investimentos minguando e dívida em alta.

Os investimentos, que consumiam 16% da receita do Estado em 2011, passaram a 8% em 2013. Já a fatia da dívida foi de 41% para 74% –e os gastos com pessoal saltaram de 34% para 46% da receita.

Anchieta, que deverá disputar o Senado e tentar emplacar o vice como sucessor, diz que as dívidas estão financiando obras importantes.

"Depende do que você chama de endividamento. Eu chamo de investimento", afirmou o tucano, para quem "conseguir investir 8% [da receita em 2013] foi muito".

France Elles/Divulgação/SECOM RR
O governador José de Anchieta Júnior (PSDB) inaugura estrada vicinal em Bonfim (RR)
O governador José de Anchieta Júnior (PSDB) inaugura estrada vicinal em Bonfim (RR)

"A situação econômica do país é caótica, com inflação subindo e obras de infraestrutura parando. Eu me considero vitorioso por conseguir investir 8% em 2013", disse.

editoria de arte/Folhapress

A oposição aponta falhas na gestão. "A dívida agora passa de R$ 2 bilhões e a infraestrutura está cada vez pior. O governo levou ao endividamento e ao sucateamento do Estado", afirmou o deputado federal Paulo Cesar Quartiero (DEM).

Em 2013, Roraima gastou R$ 865 milhões a mais do que arrecadou. O deficit fiscal em relação ao PIB foi de 10,7%, o maior entre os Estados.

Sobre a alta nos gastos com pessoal, Anchieta disse que os recursos foram para saúde e educação. "Aqui apenas 2% da população tem plano de saúde", disse. "Como todos os municípios têm dificuldades financeiras, o Estado tem de assumir praticamente toda a saúde."

O tucano cita obras no setor de energia, saneamento e a construção de 400 km de estradas vicinais como os principais legados da gestão.

"Investi em saneamento na capital. Boa Vista tem 100% de água tratada e deixarei o Estado com 90% de esgotamento sanitário", disse.

Dono do menor PIB do país (o Estado responde por apenas 0,17% das riquezas produzidas no Brasil), o ex-território federal de Roraima ainda tem a economia muito atrelada ao setor público.

Enquanto na média nacional a administração pública representa 16,2% do PIB, em Roraima o índice é de 49,7%, atrás apenas do percentual do Distrito Federal (54,4%).

O setor produtivo de Roraima ainda engatinha. A agropecuária responde por apenas 4,7% do PIB, a indústria, 13%, e o comércio, 12%.

"Temos um diálogo cordial com o governo, mas ainda se faz necessária uma política industrial", disse Ivo Gallindo, coordenador técnico de projetos da Fier (federação estadual da indústria).

A disputa pela sucessão deverá ficar polarizada entre o atual vice-governador, Chico Rodrigues (PSB), e a senadora Angela Portela (PT).

O senador Mozarildo Cavalcanti (PTB), que já foi aliado de Anchieta Júnior, apoiará a petista –embora reconheça a aversão de parte do eleitorado ao PT no Estado, em razão da demarcação, em 2005, da terra indígena Raposa Serra do Sol.

"Precisamos fazer uma grande aliança das oposições contra o governo", diz.

Quartiero, que também era situação e mudou de lado, tende a ficar neutro.

Esta reportagem é parte de uma série iniciada em agosto sobre a situação financeira dos Estados. Leia as reportagens anteriores em folha.com/estadodafederacao


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