Folha de S. Paulo


Delcídio e Renan trocam acusações sobre indicação na Petrobras

Os senadores Delcídio Amaral (PT-MS) e Renan Calheiros (PMDB-AL) trocaram nesta quinta-feira (20) acusações relacionadas à indicação de Nestor Cerveró para a diretoria internacional da Petrobras. Quando ocupou o cargo, Cerveró foi responsável pelo resumo executivo que embasou a decisão da compra da refinaria de Pasadena (EUA) pela estatal, em 2006.

Depois de Delcídio ter atribuído ao PMDB a indicação do ex-diretor, o presidente do Senado responsabilizou o petista pela escolha de Cerveró . "O Delcídio tem que ficar despreocupado porque certamente o Delcídio não indicou o Cerveró para o Cerveró roubar a Petrobras. Ele deve ficar tranquilo, o Delcídio", ironizou Renan.

O presidente do Senado se recusou a responder se teria indicado o ex-diretor da estatal. Renan disse que Delcídio deveria pedir a saída de Cerveró de seu cargo atual, que é diretor financeiro da BR Distribuidora. "Ele ter ficado na Petrobras é imperdoável. Ele [Delcídio] tem que pedir a saída do Cerveró ", afirmou.

Delcídio era diretor de Gás e Energia da Petrobras na época da compra da refinaria. O senador ainda não retornou as ligações da Folha para comentar a acusação de Renan.

Delcídio era diretor de Gás e Energia da Petrobras na época da compra da refinaria. O petista confirma que avalizou a indicação de Cerveró após ser consultado por membros do governo sobre o nome do ex-diretor. "Eu disse que era um profissional de carreira, fui consultado e disse que não tinha nenhum óbice", afirmou.

Delcídio nega, porém, que o tenha indicado para o cargo –o que teria ocorrido por intermédio do PMDB.

"O PMDB participou, era representado na diretoria internacional pelo Nestor Cerveró, isso é fato sabido. O Renan tinha toda ascendência sobre o Cerveró", disse Delcídio.

Em resposta a Renan, o senador petista ironizou o presidente do Senado ao compará-lo com o comandante do navio Costa Concordia, Francesco Schettino, que naufragou em janeiro de 2012 –por ter abandonado do navio quando se viu em meio a problemas.

"O senador Renan está um pouco nervoso, mas é um homem pragmático. Sabe que é hora de tirar o pé do acelerador porque tinha ascendência sobre a diretoria internacional da Petrobras. Está na hora de baixar o espírito Schettino. Rei morto, rei posto. Mas esse modelito é bem conhecido dele", ironizou Delcídio.

A indicação de Cerveró provocou a troca de farpas entre os senadores depois que a presidente Dilma Rousseff responsabilizou um parecer "falho" elaborado pelo ex-diretor que teria baseado o seu aval à compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras.

Em nota, Dilma confirmou que presidia o Conselho de Administração da Petrobras na época da compra da refinaria, mas que autorizou o negócio porque tinha informações "incompletas" presentes no parecer.

Numa contradição à versão de Dilma, Delcídio disse que todo processo analisado pela estatal passa por estudos de viabilidade técnica, administrativa e jurídica. "Os conselheiros têm acesso a cada processo, tudo é discutido", afirmou o senador.

Ex-diretores da estatal negam a versão da presidente. Reportagem da Folha publicada nesta quinta-feira mostra que, segundo dois executivos da estatal ouvidos pelo jornal, Dilma e todos os membros do conselho tinham à sua disposição o processo completo da proposta de compra da refinaria em Pasadena.

Na documentação integral constavam, segundo os relatos, cláusulas do contrato que a petista diz que, se fossem conhecidas à época, "seguramente não seriam aprovadas pelo conselho" da estatal.

Reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" trouxe na quarta-feira (19) a informação de que Dilma, na época presidente do Conselho de Administração da Petrobras, votou a favor da compra de 50% da refinaria em 2006, pelo valor total de US$ 360 milhões.

A compra da refinaria é investigada pelo Tribunal de Contas da União, Ministério Público do Rio e pela Polícia Federal. A principal polêmica é o preço do negócio: o valor que a Petrobras pagou em 2006 à Astra Oil para a compra de 50% da refinaria é oito vezes maior do que a empresa belga havia pago, no ano anterior, pela unidade inteira.

Além disso, a Petrobras ainda teve de gastar mais US$ 820,5 milhões no negócio, pois foi obrigada a comprar os outros 50% da refinaria. Isso porque a estatal e a Astra Oil se desentenderam e entraram em litígio. Havia uma cláusula no contrato, chamada de "Put Option", estabelecendo que, em caso de desacordo entre sócios, um deveria comprar a parte do outro.

Representantes da Petrobras negaram irregularidade na compra da refinaria. A companhia diz que não comenta o caso porque ele está sendo apurado pelo TCU (Tribunal de Contas da União).

CPI

Renan voltou a descartar nesta quinta a instalação de CPI (comissão parlamentar de inquérito), no Senado, para investigar a Petrobras. O senador disse que, como Ministério Público, Tribunal de Contas da União e Polícia Federal já apuram a compra da refinaria, a "investigação política" do Congresso não se faz necessária.

Na terça-feira, os partidos de oposição vão se reunir para apresentar os pedidos de criação da CPI na Câmara. São necessárias assinaturas 171 deputados para que a comissão de inquérito seja instalada e 27 senadores, caso ela seja mista (com Câmara e Senado).


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