Folha de S. Paulo


Aécio diz que Planalto precisa definir qual versão usar no caso da Petrobras

Depois de subir ontem à tribuna do Senado para cobrar explicações da presidente Dilma Rousseff sobre a compra da refinaria de Pasadena (EUA) pela Petrobras em 2006, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) acusou nesta quinta-feira (20) a petista de usar versões "contraditórias" para explicar a negociação.

Aécio disse que o PT, assim como o Palácio do Planalto, precisam optar pela versão de Dilma sobre a venda da refinaria ou pela apresentada pelo ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli, de que a estatal estudou em detalhes a compra de Pasadena, com ampla análise da negociação.

Em nota, Dilma disse que só apoiou a medida porque recebeu "informações incompletas" de um parecer "técnica e juridicamente falho" sobre a negociação, sem ter acesso à totalidade da documentação. Na época da venda, em 2006, Dilma era presidente do Conselho de Administração da Petrobras – que avalizou a compra da refinaria.

Richard Carson/Agência Petrobras
Plataforma de Pasadena, nas proximidades de Houston, no Texas (EUA), adquirida pela Petrobras em 2006
Plataforma de Pasadena, nas proximidades de Houston, Texas (EUA), adquirida pela Petrobras em 2006

"Ele [Gabrielli] disse que foi uma medida pensada, estudada. Segundo ele, naquele momento, a conjuntura de mercado orientava para os benefícios daquela ação. A presidente contradiz a diretoria anterior da Petrobras e é preciso que o Brasil saiba a verdade", afirmou Aécio.

Segundo o tucano, Gabrielli apresentou essa versão publicamente quando prestou esclarecimentos no Congresso Nacional sobre a compra de Pasadena, no ano passado. Apesar de afirmar que acredita na "honestidade" de Dilma e a considera uma "pessoa de bem", Aécio disse estar em "xeque a incapacidade e incompetência" de Nestor Ceveró, então diretor internacional da Petrobras. Ceveró teria sido o responsável pelo "parecer técnico falho" que embasou a decisão da presidente.

"O que se espera é que aquele que fez o encaminhamento ou fosse demitido ou investigado. Ele foi promovido, no governo da presidente Dilma ocupa diretoria na BR distribuidora. Isso é inaceitável, esse modus operandi do PT não é mais aceito pela sociedade brasileira", disse o tucano.

Reportagem da Folha publicada hoje mostra que presidente Dilma Rousseff e todos os demais membros do Conselho de Administração da Petrobras tinham à sua disposição o processo completo da proposta de compra da refinaria em Pasadena, segundo dois executivos da estatal ouvidos pelo jornal.

Na documentação integral constavam, segundo os relatos, cláusulas do contrato que a petista diz que, se fossem conhecidas à época, "seguramente não seriam aprovadas pelo conselho" da estatal. Reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" trouxe ontem a informação de que Dilma, na época presidente do Conselho de Administração da Petrobras, votou a favor da compra de 50% da refinaria em 2006, pelo valor total de US$ 360 milhões.

Editoria de Arte/Folhapress

CPI

Aécio disse que vai apoiar a criação de CPI (comissão parlamentar de inquérito) para investigar o caso. O senador disse ser favorável à instalação da comissão na Câmara, mas a oposição também vai discutir se a CPI pode ser mista, com deputados e senadores, para apurar a venda da refinaria.

Como a oposição é minoria no Congresso, Aécio disse acreditar no apoio de congressistas aliados de Dilma para que a investigação saia do papel. "Aqueles da base do governo que dizem querer investigar essa questão, que já nos ajudaram a aprovar a comissão externa para apurar outras denúncias envolvendo a Petrobras no pagamento de propina para empresa holandesa, nós esperamos que possam nos ajudar para que essa questão seja esclarecida."

Na terça-feira, os partidos de oposição vão se reunir para apresentar os pedidos de criação da CPI na Câmara. São necessárias assinaturas 171 deputados para que a comissão de inquérito seja instalada e 27 senadores, caso ela seja mista.

Aécio disse que, na comissão, governo e Petrobras terão condições de esclarecer a compra da refinaria. "Isso permite que a própria presidente tenha a oportunidade de explicar as razoes pelas quais ela tomou essa decisão e, mais que isso, porque omitiu dos brasileiros nos últimos seis anos ter tomado a decisão que tomou."


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