Folha de S. Paulo


Governador do AC faz ato oficial para readmitir servidor indiciado pela PF

O governador do Acre, Tião Viana (PT), fez um ato em sua residência oficial para marcar a volta ao governo de seu ex-secretário preso no ano passado e indiciado sob suspeita de fraude em licitações.

O ato, realizado nesta terça-feira (18), era para a posse de Wolvenar Camargo, ex-secretário de Obras do governador petista. Ele assumiu nesta semana o cargo de assessor especial de Viana, com salário de R$ 17 mil.

Deflagrada em maio de 2013, a Operação G7 da Política Federal investigou formação de cartel para fraudes em licitações no governo de Tião Viana. Na ocasião, 15 pessoas foram presas. Um dos principais programas da gestão, o Ruas do Povo, é alvo da apuração.

Dos presos na época, cinco eram funcionários ou ex-servidores do Estado, e um, da Prefeitura de Rio Branco, também do PT. Camargo passou 40 dias detido em 2013. No ato de posse de Camargo, Viana disse que o assessor continuará a cuidar de obras e afirmou que a operação da PF visou "destruir inocentes".

Gleilson Miranda/Secom Acre
Wolvenar Camargo assume cargo de assessor especial de Tião Viana (PT), com salário de R$ 17 mil
Wolvenar Camargo (à esq.) assume cargo de assessor especial de Tião Viana, com salário de R$ 17 mil

"A condição de assessor especial é um elo de confiança absoluta minha com ele [Camargo]", disse. Em discurso, Camargo afirmou não ter tido chance de defesa e que não há provas que o envolvam em corrupção.

INDICIAMENTOS

Todos os detidos foram indiciados pela PF por suspeita de crimes como formação de cartel e de quadrilha, peculato e corrupção. O Ministério Público Federal ainda está investigando o caso. A Procuradoria afirma que espera o resultado de novas diligências solicitadas à PF.

Outro investigado é o empresário Assurbanipal de Mesquita, que à época tinha cargo de diretor de Desenvolvimento Urbano na gestão de Marcus Alexandre, afilhado político de Tião Viana, na Prefeitura de Rio Branco. Após ser liberado, Mesquita manteve a função pública e o salário de R$ 8.000.

Já no mês passado, o governo do Estado contratou a mulher do ex-secretário de Habitação Aurélio Cruz, outro indiciado pela PF. Rosângela da Cruz é diretora na Secretaria de Relações Institucionais, função que lhe rende R$ 13 mil por mês.

O governo do Acre não comentou a nomeação de Rosângela da Cruz. Sobre os outros ex-servidores investigados pela PF, entre eles um sobrinho de Viana, o governador disse que todos optaram por não voltar à vida pública no momento.

OUTRO LADO

O advogado Rodrigo Cordeiro, que representa Wolvenar Camargo, negou as suspeitas e disse que seu cliente está livre para ocupar função pública – a Justiça chegou a determinar o impedimento, revertido posteriormente a pedido da defesa.

"Não havia mais motivos para se manter tais medidas [restrições ao exercício de funções públicas], visto que quase um ano depois o próprio Ministério Público enfrenta dificuldades para fazer a denúncia", disse Cordeiro.

A Prefeitura de Rio Branco afirmou que Assurbanipal de Mesquita mantém as funções na administração municipal porque é investigado por supostos crimes praticados quando era empresário, e não como servidor público.

O advogado de Mesquita, Armyson Lee, negou participação em fraudes e disse que não há impedimento ao exercício de função pública. A reportagem não localizou a defesa do ex-secretário Aurélio Cruz.


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