Folha de S. Paulo


Para evitar desgaste, Campos cancela camarote com 'banheiro superluxo'

Aparelhos de ar-condicionado, piso em madeira Ipê, papel toalha e papel higiênico de luxo. Esses são apenas alguns dos itens dos dois banheiros "superluxo" do camarote de Carnaval do governador Eduardo Campos (PSB) e do prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), pelos quais a prefeitura pretendia pagar R$ 55 mil.

A ideia de fazer o tradicional camarote no Marco Zero foi abortada na tarde de terça-feira (25), a três dias do Carnaval. O edital para a montagem da estrutura foi lançado no final de janeiro e revogado menos de 15 dias depois, na data em que as empresas interessadas apresentariam suas propostas.

Os "módulos de sanitários superluxo", como os banheiros são descritos no edital, seriam utilizados desta sexta-feira até a próxima terça-feira pelos convidados do presidenciável e do prefeito na estrutura que estava sendo montada no Marco Zero, principal polo carnavalesco da capital.

A prefeitura também orçou em R$ 16,5 mil dois camarins de 57 metros quadrados para o prefeito e o governador. Toda a área VIP estava orçada em ao menos R$ 295 mil.

O edital completo da "Central do Carnaval", que além do camarote oferece área de serviço com praça de alimentação, sala de imprensa, pontos de informação e de comércio para o público em geral, estava orçado em R$ 2,12 milhões.

Ativistas organizavam pelas redes sociais um protesto intitulado "Quero minha vaga no camarote VIP do governo". O ato questionava os gastos com "bebida e comida pagas pelos nossos impostos".

Temendo danos à imagem do pré-candidato à Presidência da República, governo do Estado e a prefeitura desistiram dos camarotes do Marco Zero e do Galo da Madrugada. Em vez de camarote, prefeitura e governo instalarão no local onde grande parte da estrutura já está montada uma central de monitoramento e segurança.

Os espaços destinados à contemplação do principal bloco do Carnaval de Pernambuco serão repassados ao Clube de Máscaras Galo da Madrugada, que terá que arcar com os empenhos já liberados.

O secretário de Turismo do Recife, Felipe Carreras, nega que o cancelamento em cima da hora tenha viés político. "Por que ele [Geraldo Julio] não tomou [a decisão] há 15 dias? Porque tomou ontem [terça-feira]. Ele economizou recursos públicos", disse Carreras à Folha nesta quarta-feira (26).

"Ele tomou a decisão e não vai haver [camarote] neste ano nem nunca mais. Ele tomou a decisão correta", afirmou. Segundo o secretário, o prefeito montou camarote no ano passado porque já estava com a estrutura definida pela gestão anterior. "Ele se sentia incomodado com essa história de estar em camarote com convidados", disse Carreras.

Mesmo com o "incômodo", a licitação do espaço foi lançada pela administração Geraldo Julio em janeiro deste ano.

PATROCÍNIO

A prefeitura informou que a estrutura da "Central do Carnaval" será financiada pela Ambev, patrocinadora oficial de toda a festa até 2016 por causa de um contrato feito no ano passado. O município disse que gastará R$ 4 milhões dos R$ 9,2 que recebeu da cervejaria para gastar com Carnaval, São João e Ano-Novo neste ano. A Secretaria de Turismo informou que a prefeitura só se deu conta de que caberia à cervejaria montar a estrutura depois que lançou o edital de licitação e, por isso, ela foi cancelada.

Segundo Felipe Carreras, as estruturas de camarim e banheiros de luxo não serão montadas. A nova "Central do Carnaval" custará R$ 1,5 milhão. A assessoria de imprensa da Ambev informou que ninguém poderia falar com a reportagem.

A vereadora de oposição Priscila Krause (DEM) disse estranhar a reviravolta na montagem do camarote e também deve solicitar até o final da semana uma cópia do contrato entre prefeitura e cervejaria. "Isso precisa ser muito bem analisado. A gente precisa ir para a ponta do lápis", disse ela.


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