Folha de S. Paulo


Análise: Estabilidade pode ser alento para governo e oposição

Sob a ótica eleitoral, há duas interpretações possíveis para a estabilidade do cenário político revelada hoje pelo Datafolha. A mais positiva para a oposição valoriza a interrupção no processo de retomada da popularidade da presidente depois da turbulência provocada pelas manifestações de junho.

Após a queda abrupta de 27 pontos percentuais naquela ocasião, a aprovação de Dilma Rousseff vinha crescendo continuamente desde agosto de 2013. Agora, fica estática se comparada à do último mês de novembro.

Na outra ponta, uma visão otimista para o governo encontra na manutenção dos índices um sinal alentador diante de problemas pontuais do início de 2014 como falhas no fornecimento de energia, a estiagem em diferentes regiões, os episódios de violência nos protestos contra a Copa e a queda no apoio da população à realização do evento no Brasil.

A influência desses fatores pode ter sido anulada em parte pelo aumento da rejeição às manifestações especialmente nos estratos da população mais simpáticos a Dilma -os mais pobres e menos escolarizados.

Quanto à corrida eleitoral, uma consulta à história poderia reforçar o otimismo do governo. Nas reeleições de FHC e Lula, em 1998 e 2006, respectivamente, ambos os presidentes começaram o ano da disputa como líderes nas intenções de voto e com taxas muito próximas às que seriam observadas posteriormente nas urnas.

Em março de 1998, Fernando Henrique tinha 41% da preferência do eleitorado. Ao final, conseguiu 43% do total. Lula começou 2006 com 45% de apoio e alcançou 44,5% nas urnas.

À oposição vale a ressalva de que ao longo da briga, nas duas ocasiões, arranhões não faltaram -Lula teve que sobreviver a "mensaleiros" e "aloprados" e FHC à declaração sobre "aposentados vagabundos".

Alertas da pesquisa também podem se somar aos percalços de campanha no arsenal dos adversários de Dilma já que a maioria do eleitorado diz querer uma gestão diferente da petista e demonstra maior pessimismo em relação à economia.

E, entre os nomes mais prováveis da oposição, as estratégias serão diferentes.

Considerando-se as possibilidades de crescimento de cada um dos candidatos por estrato, percebe-se que Aécio Neves deverá intensificar a campanha no segmento feminino, entre os eleitores de menor renda e entre os nordestinos.

Eduardo Campos, por outro lado, precisa tornar-se mais conhecido e, simultaneamente, conquistar simpatias nas regiões Sudeste e Sul, especialmente nos estratos de menor escolaridade.

Para a campanha de Dilma, patamares mais elevados de apoio significaria atrair eleitores das maiores cidades do país, localizadas especialmente no Sul e Sudeste. Além disso, é fundamental para a presidente sair ilesa de uma experiência que tanto FHC quanto Lula não tiveram em seus processos de reeleição -uma Copa no país permeada pela falta de estrutura e ameaça de protestos.


Endereço da página: