Folha de S. Paulo


Operação tira garimpo de área ianomami

Ao completar uma semana de operação contra o garimpo ilegal na Terra Ianomami, a Funai conta ter destruído 25 balsas que exploravam ouro no fundo do rio Uraricoera, que atravessa a reserva localizada no Estado de Roraima.

O responsável pela ação, João Catalano, disse por telefone que as dragas que exploravam ouro no fundo daquele rio empregavam cerca de 400 pessoas.

Catalano, que é coordenador da Frente de Proteção aos Índios Isolados no Estado, diz que agora a principal preocupação do órgão indigenista é com um grupo ianomami que não tem convivência com brancos ou outros índios. Sua localização é conhecida da Funai, que tenta garantir seu isolamento. No entanto, como a Folha noticiou, acampamentos de mineradores estão localizados muito próximos à área do grupo.

"Há mais garimpos feitos em terra firme que estão destruindo a nascente do rio que cruza a área desses isolados. Tememos que eles tenham contato, levando doenças para as quais os índios não têm resistência", narra. Esses acampamentos em terra firme (usam uma técnica de garimpo diferente das balsas) estão em locais de mais difícil acesso. Por isso a entidade prepara novas ações ao longo deste mês para completar a retirada dos garimpos remanescentes.

Segundo Catalano, os garimpeiros que exploravam as balsas no rio Uraricoera tiveram notícia da movimentação das Polícias Federal e estadual de Roraima e saíram de seus acampamentos antes do dia 7. "Nosso objetivo não era prender garimpeiros, mas interromper a invasão e estabelecer defesas que impeçam a retomada da mineração ilegal."

editoria de arte/Folhapress

Para isso, foi destruída uma pista de pouso para aviões que abasteciam os mineiros, e retomada uma base de vigilância localizada no médio rio Uraricoera, que impede que barcos do garimpo subam de Boa Vista pelo rio para abastecer os trabalhadores ilegais. "Assim fechamos o acesso por avião e por barco", afirma Catalano.

Criada pela Funai em meados do ano passado, a base tinha sido ocupada por garimpeiros durante as festas de Ano Novo. Agora é usada por policiais para controlar o fluxo de barcos navegando em direção a zonas conhecidas de garimpo.

Catalano diz que muitos garimpeiros desceram o rio para fora da reserva indígena, em canoas; outros embrenharam-se na floresta, o que vai forçá-los a se entregar dentro de alguns dias. "Eles não têm suprimentos para muito tempo. Logo vão buscar as margens do rio e se entregar, como fizeram nas operações anteriores, em 2013 e 2012", afirma.

Índios isolados não têm defesa natural contra doenças comuns em outros povos. Não têm tampouco capacidade de enfrentar garimpeiros armados. Por isso, a Funai teme a proximidade entre os mineradores e esse grupo ianomami que, nos anos 1970, fugiu do contato com funcionários do governo e indigenistas e seguiu para áreas da floresta então sem acesso.

Os ianomami são o maior grupo indígena de contato recente com a sociedade ocidental. São cerca de 20 mil no Brasil e 16 mil na Venezuela. Seu contato intensivo data dos anos 1970. A morte de milhares deles por doenças no fim dos anos 1980 provocou comoção mundial.

Segundo Carlos Travassos, coordenador geral de Índios Isolados da Funai, a entidade tentará ao longo deste ano estabelecer postos de vigilância eficientes, com a colaboração da Polícia Federal, e eliminar todos os focos de garimpo. Mas ele não descarta a possibilidade de, se as ameaças continuarem, ter que se aproximar desses índios para prepará-los ao convívio com a sociedade.


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