Folha de S. Paulo


Réu do mensalão tucano foi assessor de Pimentel no Desenvolvimento

Réu no processo do mensalão tucano, o ex-presidente do antigo Banco do Estado de Minas Gerais José Afonso Bicalho é assessor do Ministério do Desenvolvimento desde abril do ano passado, onde trabalhou com o ex-ministro Fernando Pimentel.

Bicalho foi contratado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e cedido para o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) –forma de contratação usada desde 1995. O caso foi revelado pelo jornal "O Globo" nesta sexta-feira (14).

No mensalão tucano, o grupo Bemge transferiu, quando Bicalho presidia o banco em 1998, R$ 500 mil à SMP&B, agência do empresário Marcos Valério de Souza, segundo a Polícia Federal.

De acordo com o Ministério Público Federal, o dinheiro teria sido desviado para a campanha de reeleição de Eduardo Azeredo (PSDB) em 1998 ao governo de Minas.

As investigações ainda apontam que Marcos Valério teria feito empréstimos fraudulentos para justificar o uso do dinheiro na campanha do PSDB, um esquema semelhante ao usado no mensalão do PT, caso que levou à condenação do empresário pelos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Procurado pela reportagem, o MDIC confirmou a contratação de Bicalho pelo BNDES. Segundo o ministério, o processo do mensalão tucano está em curso e "é preciso aguardar o seu desfecho e evitar pré-julgamento".

O ministério não detalhou as atribuições de Bicalho na pasta ou a relação de trabalho que teve com Pimentel, que deixou o comando da pasta para entrar na disputa pelo governo de Minas.

O MDIC também não respondeu quanto Bicalho recebe, afirmando que o questionamento sobre o salário deveria ser encaminhadas ao BNDES. O Banco, por sua vez, não revelou o valor.

Procurado por email e telefone, Bicalho não respondeu a reportagem.

A Folha revelou na quarta-feira que o jornalista Eduardo Guedes, outro réu do processo do mensalão tucano, trabalhava para o pré-candidato do PSDB à Presidência, o senador Aécio Neves. Depois da reportagem, Guedes pediu o encerramento do contrato firmado com os tucanos.

A Procuradoria-Geral da República pediu na semana passada ao STF que o atual deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG) seja condenado a 22 anos de prisão e ao pagamento de multa de mais de R$ 2,2 milhões por sua participação no mensalão tucano.

De acordo com a acusação, foram desviados sob forma de patrocínio de eventos esportivos cerca de R$ 3,5 milhões (cerca de R$ 9,3 milhões em valores atuais) do Bemge e das empresas públicas Comig e Copasa. Azeredo sempre negou participação no esquema apontado pelos investigadores. Ele afirma haver "contradição entre o relatório da Procuradoria e as provas apresentadas".

No STF, existem ao menos dois processos sobre o suposto desvio de recursos públicos em Minas. Além da ação contra Azeredo, o segundo investiga o senador Clésio Andrade (PMDB-MG), então candidato a vice na chapa de Azeredo. Outros processos sobre o caso estão em andamento em instâncias inferiores da Justiça mineira, local onde Bicalho e Guedes são investigados.


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