Folha de S. Paulo


Diretoria da Siemens sabia de suborno, afirma delator

O alto escalão da Siemens no Brasil sabia e aprovava o pagamento de propina a políticos e funcionários públicos para conquistar contratos com o Metrô e a CPTM.

A acusação é do ex-diretor da multinacional alemã Everton Rheinheimer, em depoimento sigiloso à Polícia Federal obtido pela Folha.

O executivo cita os nomes de três dirigentes da Siemens que conheciam a prática de suborno: Newton Duarte, que foi diretor-geral da empresa até 2012, Ronaldo Cavalieri, ex-gerente comercial, e Ricardo Lamenza, que era diretor financeiro e atualmente ocupa a diretoria de energia da companhia alemã.

Os três, segundo Rheinheimer, "sabiam desses pagamentos, pois cada um tinha parte da atribuição dentro da empresa para aprová-los".

Editoria de Arte/Folhapress

Sobre Duarte, seu superior hierárquico na companhia, ele foi ainda mais enfático. Afirma que "ele sabia das práticas ilícitas que estavam acontecendo".

Duarte assinou documentos de uma conta bancária em Luxemburgo que é alvo de apuração pela PF. A suspeita é que a conta tenha sido usada para pagar propinas ou desviar recursos da Siemens.

Rheinheimer dirigiu a divisão de transportes da Siemens entre 2002 e 2007 e fechou um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal. Rheinheimer e Cavalieri estiveram no centro de alguns negócios que a Siemens apontou como alvo de conluio das empresas.

Os dois assinaram um contrato de consultoria em 2000 com Arthur Teixeira, que foi indiciado pela PF sob acusação de intermediar o pagamento de suborno.

Eles eram os representantes da Siemens no consórcio Sistrem, que forneceu trens e sistemas para a linha 5 do Metrô. O consórcio foi formado pela Siemens, Alstom, CAF e DaimlerChrysler.

CARTEL

A licitação da linha 5 é uma das concorrências fraudadas por um cartel de empresas do qual a Siemens participou, segundo delação que a multinacional alemã fez ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) em maio.

Rheinheimer e Duarte estão entre os ex-executivos da Siemens que assinaram a delação. Segundo relatório entregue ao Cade, o cartel atuou pelo menos entre 1998 e 2008 em São Paulo, nos governos de Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, do PSDB.

Na última sexta-feira, a Folha revelou que Rheinheimer contou à PF que o cartel pagava de 5% a 9% de suborno sobre o valor do contrato. Em quatro negócios, a propina pode chegar a R$ 197 milhões, em valores atualizados. Só na licitação da linha 5 a propina teria sido de R$ 141,3 milhões (9% do valor do negócio, segundo o executivo).

OUTRO LADO

O ex-diretor da Siemens Newton Duarte e as empresas acusadas de conluio e suborno negam a prática de crimes. Duarte diz que nunca deu ordens a executivos da Siemens "para fazer algo ilícito" e que a empresa adotou um código de conduta em 2006 que proibia pagamento de comissões para servidores.

A assessoria da Siemens informou que o atual diretor de energia da companhia Ricardo Lamenza não iria se manifestar e que a empresa não encontrou irregularidades cometidas pela atual diretoria. Ronaldo Cavalieri também não quis se pronunciar.

A Siemens relata ter feito auditorias e as suspeitas levantadas "resultaram nas investigações em andamento". A Alstom diz que enfrenta acusações sobre fatos do início dos anos 2000 ou anteriores e tem adotado regras de conformidade e ética.

A Bombardier, que comprou a DaimlerChrysler, afirma que "rechaça qualquer tipo de conduta que não esteja de acordo com os mais altos padrões de ética". A reportagem não localizou representantes da CAF no fim da tarde de ontem.

O advogado Eduardo Carnelós, que defende Arthur Teixeira, diz que Rheinheimer "tinha interesses escusos" e seu cliente nunca foi intermediário de propinas.


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