Folha de S. Paulo


Apesar de morto, "Celso" Pizzolato votou nas eleições de 2008

"Celso" Pizzolato compareceu às urnas para votar nos dois turnos das eleições municipais do Rio, em 2008, e um ano antes apresentou à Receita Federal uma declaração de isento.

Situações normais para um cidadão se não fosse o fato de que Celso, irmão de Henrique Pizzolato, morreu em um acidente de carro no Paraná em 1978, aos 24 anos.

Até agora se sabia apenas que Celso fora "ressuscitado" a partir de 2007, quando Henrique Pizzolato deu início ao plano de fuga e falsificou documentos em nome do próprio irmão, segundo investigações da Polícia Federal.

Ex-diretor do Banco do Brasil condenado a 12 anos e 7 meses pelo mensalão, Henrique usou o passaporte em nome do irmão para passar pela Argentina, voar até a Espanha e buscar refúgio na Itália, onde foi preso na quarta-feira (5). Tudo indica, contudo, que o plano de Henrique não se limitou usar a identidade do irmão para fugir do Brasil.

A Polícia Federal acredita que, além de emitir e usar RG, CPF, título de eleitor e passaportes em nome Celso, o ex-diretor do BB também se passou pelo irmão em outras ocasiões, como para votar e acertar as contas com o Fisco.

O Tribunal Regional Eleitoral do Rio confirmou à Folha que "Celso" Pizzolato votou nos dois turnos das eleições para prefeito em 2008. Ele não compareceu às urnas nem justificou a ausência nas eleições de 2010, mas pagou as multas em janeiro do ano seguinte. No ano passado, "Celso" não votou nem justificou e até agora não pagou nenhuma multa.

Apesar do débito em aberto, ele não deixou de prestar contas à Justiça eleitoral durante três eleições seguidas e, por isso, o título dele aparece como regular. "Celso" vota em Copacabana, mesmo bairro onde Henrique tem em seu nome um apartamento.

A situação junto à Receita Federal também é regular. Consta, em 2007, a apresentação de declaração de isento. O documento deixou de ser exigido pelo Fisco a partir de 2008. "Pelos registros oficiais, 'Celso' está vivo. O CPF e o título são válidos", afirma o chefe da Interpol no Brasil, Luiz Cravo Dórea, que participou das investigações.

Sem localizar qualquer tipo de registro de saída e entrada de Henrique em mais de uma centena de países, a PF cogitou até que o ex-diretor poderia ter atravessado o Atlântico num iate ou num avião de empresários amigos. Mas foi seguindo os passos de Celso, morto num acidente de carro há 35 anos, que os policiais localizaram e prenderam Henrique na Itália, quando visitava um sobrinho em Maranello.

Durante a investigação, policiais anotaram que Pizzolato perdeu um irmão mais novo num acidente no Paraná em 1978. Num informe das autoridades italianas, o nome desse irmão apareceu como solicitante de residência na Itália no ano passado.

Primeiro, os federais acharam o túmulo de Celso em Concórdia (SC). Confirmaram, então, que uma pessoa apresentando o passaporte de Celso entrou na Argentina no dia 11 de setembro pela fronteira com Santa Catarina e voou de Buenos Aires para a Espanha no dia seguinte. Deixou as digitais na entrada e na saída.

Mas a confirmação que "Celso" era mesmo Henrique só veio às 22h de terça-feira, quando ficou pronto o laudo das digitais coletadas na Argentina, do RG em nome de Celso tirado em 2007 e do documento original do ex-diretor do BB.

A polícia italiana, contudo, já monitorava a casa do sobrinho de Pizzolato porque, no local, estava o Fiat Punto vermelho, comprado em nome da mulher de Pizzolato, Andrea Eunice Haas, na Espanha.

PRISÃO

Foragido desde novembro do ano passado, Henrique Pizzolato, o ex-diretor do Banco do Brasil condenado no processo do mensalão, foi preso na manhã de quarta-feira (5) no norte da Itália, como noticiou a Folha.

Numa ação das polícias italiana e brasileira, ele foi detido em Maranello (a 322 km de Roma), onde vivia na casa de um sobrinho, com passaporte falso em nome de Celso, irmão morto em 1978 em um acidente de carro.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que o governo pedirá à Itália a extradição de Pizzolato. No entanto, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) avalia que a medida é "inócua". Para Celso de Mello, o pedido é "juridicamente inviável" –já que Pizzolato possui cidadania italiana e as leis locais proíbem a extradição de seus cidadãos. Já a Procuradoria-Geral da República considera que existem brechas legais.

A partir de informação da polícia italiana de pedido de cidadania de residente, a Polícia Federal descobriu que Pizzolato havia falsificado documentos. O planejamento da fuga começou em 2007, cinco anos antes de ele ser condenado pelo STF a 12 anos e 7 meses de prisão pelo envolvimento no esquema do mensalão.

No momento da prisão, o ex-diretor do BB estava com a mulher e tinha € 15 mil. "Ele jogou o nome da família na lama", disse a tia de Pizzolato no Brasil.

Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress

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