Folha de S. Paulo


Em atitude rara, deputado vira garoto-propaganda de cerveja

Principal estrela da seleção brasileira tetracampeã do mundo em 1994, o ex-atacante Romário, deputado federal a partir de 2011, é desde o final do mês passado garoto-propaganda da cerveja Devassa.

O contrato, cujos valores não foram revelados nem pela empresa nem pelo ex-jogador, constitui fato no mínimo raro em Brasília, o de um político que mediante remuneração aceita estrelar a campanha publicitária de uma empresa.

A Folha consultou vários funcionários e órgãos técnicos da Câmara nos últimos dias e nenhum deles disse ter registro de precedente. Romário é o principal nome do PSB no Rio de Janeiro e é cotado para disputar o Senado em outubro.

Eleito com mais de 147 mil votos em 2010, a sexta maior do Estado, ele aparece em duas propagandas da cerveja na TV jogando pelada nas praias do Rio.

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"O espírito da pelada está em todo o brasileiro, e o sabor desse espírito tá em cada Devassa. Vem pra pelada, o lado Devassa do futebol", diz o deputado em um dos comerciais. Ele também será o garoto-propaganda da Devassa no Carnaval carioca, ao lado da atriz Grazi Massafera.

A área técnica da Câmara afirmou que, a princípio, não há impedimento legal em um deputado virar garoto propaganda de uma empresa particular, embora a Comissão de Constituição e Justiça da Casa, que nunca analisou caso similar, possa ter posição diversa. Romário afirmou à Folha que sua atuação como deputado não está "em negociação".

"Quem está na TV emprestando sua imagem a uma peça publicitária é o ex-jogador de futebol, um campeão mundial que integra o imaginário popular brasileiro, isto fica muito claro na campanha", diz ele.

"Como deputado federal, sou completamente independente e respondo, exclusivamente, pelo interesse da população brasileira e do estado do Rio de Janeiro. Minha atuação não está em negociação", acrescentou. A Brasil Kirin, fabricante da Devassa, não comentou.

Um caso que se aproxima da situação de Romário é a dos ex-governadores Leonel Brizola (RS e RJ) e Paulo Maluf (SP), que nos anos 90 foram garotos-propaganda do sapato 752 da Vulcabras. Na época, porém, nenhum exercia mandato. Brizola, segundo a agência de publicidade, não cobrou cachê, apenas a coleção do sapato.


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