Folha de S. Paulo


Protestos não são o fim do mundo, são da democracia, diz Eduardo Paes

Em baixa nas pesquisas de opinião desde os protestos de junho, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), diz que é "burrice" se preocupar com popularidade agora.

Ele afirma que as mobilizações "não acabaram nem vão acabar", mas "não são o fim do mundo" para os políticos.

Reeleito há um ano no primeiro turno, com 64% dos votos válidos, Paes agora segue à risca as cartilhas de marketing para tentar se reerguer.

Recebeu o "Mídia Ninja", responde eleitores em redes sociais e passou a se reunir com ativistas da oposição.

"É burrice pensar agora em popularidade. O desafio é lidar com este ambiente", disse à Folha na sexta-feira, em seu gabinete no Palácio da Cidade, em Botafogo (zona sul).

O prefeito disse que reajustará as passagens de ônibus em janeiro e afirma que o governador Sérgio Cabral (PMDB) está sendo "injustiçado" pelos eleitores.

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Folha - O Rio ganhou prêmio internacional de "cidade inteligente", mas sua avaliação nas pesquisas é ruim. O sr. é mais popular no exterior?

Eduardo Paes - Há reconhecimento interno e externo de que o Rio avança. Quando recebemos prêmio de cidade inteligente, ninguém está dizendo que o Rio é mais puro do que Copenhague, tem mais políticas ambientais do que Londres.

Dentro da tragédia urbana mundial, a cidade está lidando com alguns desafios de maneira interessante. Lá fora, as pessoas entendem que a cidade começa a encontrar soluções. O porto é um "case" fantástico de revitalização de uma zona degradada.

Rony Maltz/Folhapress
O prefeito do Rio Eduardo Paes (PMDB) em entrevista exclusiva à Folha concedida no Palácio da Cidade
O prefeito do Rio Eduardo Paes (PMDB) em entrevista exclusiva à Folha concedida no Palácio da Cidade

O sr. foi reeleito há um ano e agora está mal nas pesquisas. Como explica sua queda?

Vi o [ex-prefeito] Cesar Maia, em 1998, com aquela história de pesquisa demais, fazer uma equação que dava que ele ia perder a eleição para governador. Ele não foi ao debate com o Anthony Garotinho. Se acovardou, foi para casa chorar. Se eu entendesse de pesquisa, em 2008, contra o Fernando Gabeira, eu ia chorar. Não entender me fez ir para rua, disputar e ganhar.

Há uma queda de popularidade de todos os governantes, e Rio e São Paulo foi onde se sofreu mais. Que grande lambança eu fiz de um ano para cá que justificasse essa avaliação? Há erros, mas não vejo uma grande lambança.

O sr. foi contaminado pela impopularidade do governador Sérgio Cabral, seu aliado?

Manifestação não é ruim. O tema para mim, que não estou disputando eleição [em 2014], não é popularidade. É burrice pensar agora em popularidade. O desafio é como lidar com este ambiente.

Os protestos não acabaram e nem vão acabar. Podem ter gradações distintas.

Nós, políticos, ficamos interpretando as coisas como se fossem o fim do mundo. Protesto não é o fim do mundo, é coisa de democracia consolidada. Mudou a abordagem, as pessoas estão mais empoderadas. É do cacete.

Tentei não fugir dos desafios. Fiz a licitação dos ônibus, não defino mais o reajuste da tarifa num quarto fechado com um monte de português [donos das empresas].

O sr. defende a transparência, mas sua base na Câmara sufocou uma CPI sobre os ônibus.

Eu não quero nem deixo de querer CPI. Minha oposição tem nove vereadores e conseguiu 24 assinaturas. Não pedi a ninguém para não assinar.

A prefeitura vai mesmo reajustar os ônibus em janeiro?

Sou a favor. Mas se o Tribunal de Contas me provar que não é devido o reajuste, eu não faço. O que não vou deixar acontecer na minha cidade é cair na armadilha que o meu amigo Fernando Haddad está. Não vou colocar dinheiro público na mão de português nem fazer controle populista de preço.

Não podemos repetir erros. No ano passado, por uma questão artificial de controle de preços, a gente adiou [de janeiro para junho].

O sr. atendeu a um pedido do ministro da Fazenda, Guido Mantega. A culpa foi dele?

Foi culpa do Mantega e minha, porque eu aceitei adiar. Mas é leitura primária achar que as manifestações eclodiram por causa do reajuste.

O trânsito piorou no Rio, já foi apontado como o pior do país. A que se deve isso?

Ao carro. A essa loucura do Brasil, com as políticas do governo federal [de estímulo à compra de automóveis]. Não é da Dilma nem do PT, é histórico. Não vejo solução para a cidade com carros.

Não perco tempo com isso. Perco com mobilidade, transporte coletivo. Estou fazendo 150 km de BRT [corredores para ônibus articulados].

O que acha de medidas como pedágio urbano e rodízio?

Sou a favor. Não implementarei porque quem me antecedeu não deu condições. Essas soluções pressupõem alternativa com transporte público.

A Rio Branco, uma das principais avenidas do centro, será fechada para carros?

Lógico. Vai ser um ótimo boulevard. Vai ser bom para protesto. Vão poder protestar sem interromper o trânsito.

Desde a década de 1960, ninguém removeu tantas favelas no Rio. O sr. é higienista, como acusam ONGs?

Só há uma remoção por causa da Olimpíada, a Vila Autódromo. Cerca de 90% são em áreas de risco. As pessoas que veem higienismo têm que vir na hora em que chove e as pessoas morrem. Ainda temos 10 mil pessoas em áreas de risco.

O PMDB ainda pode manter a aliança com o PT na eleição para o governo do Rio?

Torço para que o PT apoie o [vice-governador Luiz Fernando] Pezão. Se não apoiar, temos que manter a educação e a gentileza, e no segundo turno eles nos apoiam.

Como o PT vai agredir o Sérgio [Cabral]? Fica mal. É sócio há sete anos. Só vai acelerar a derrota. Da mesma maneira, acho impossível o PMDB do Rio não apoiar a presidente Dilma à reeleição.

Pezão tem apenas 5% de intenções de voto.

Há um desgaste de todos os candidatos. Ninguém cresceu com a crise política. E até quem não gosta do Sérgio pessoalmente reconhece que fez o melhor governo do Rio.

Cabral é um injustiçado?

Eu acho. Não se justifica o grau de ataque, e eventual impopularidade, a um governador que fez o que ele fez.

Quem será o principal adversário do PMDB em 2014?

Eu quase torço para ser o Garotinho. É um adversário ótimo. Ele encarna o Rio do passado, da briga como instrumento de outros interesses que não os do Estado.

E em 2016, quem será seu candidato a prefeito?

O mais preparado é o Pedro Paulo [chefe da Casa Civil da prefeitura]. Mas não quero tratar de sucessão agora.

É verdade que o sr. sonha com a Presidência em 2018?

A única coisa que garanto que farei em 1º de janeiro de 2017 [primeiro dia fora da prefeitura] é tentar ir para uma universidade em Londres e morar seis meses lá.


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