No mês em que os réus do mensalão começaram a ser presos, o PT do Rio escolheu como seu novo tesoureiro um dirigente que recebeu R$ 100 mil do valerioduto.
Empossado no último dia 30, o novo secretário de Finanças do partido, Carlos Manoel Costa Lima, apareceu nas investigações da CPI do Mensalão, em 2005.
O dinheiro foi sacado em uma agência do Banco Rural em agosto de 2003, primeiro ano do governo Lula. A origem era uma conta da DNA, empresa usada por Marcos Valério de Souza para disfarçar a fonte de repasses feitos a políticos e assessores partidários que se envolveram no esquema.
Costa Lima afirma ter usado os R$ 100 mil para quitar dívidas de campanha da então governadora Benedita da Silva (PT) à reeleição, em 2002. Benedita perdeu aquela eleição para Rosinha Matheus (então no PSB).
CAIXA DOIS
Costa Lima reconhece que o dinheiro era de caixa dois, ou seja, nunca foi declarado à Justiça Eleitoral, como determina a lei. No entanto, ele diz entender que não cometeu crime.
O petista foi citado 22 vezes em depoimento de Manoel Severino dos Santos, ex-presidente da Casa da Moeda, à CPI do Mensalão. Santos confirmou ter orientado o aliado a usar os R$ 100 mil do valerioduto para quitar as dívidas da campanha de Benedita de Silva com seus fornecedores.
O dinheiro foi sacado e entregue a Costa Lima pelo também petista Carlos Roberto Macedo Chaves, ex-subsecretário de Fazenda do município de Mesquita (RJ). O novo tesoureiro do PT fluminense foi ouvido pela Polícia Federal nas investigações sobre o mensalão, em depoimento ao delegado Luís Flávio Zampronha.
Contudo, ele não entrou na lista de 40 denunciados pela Procuradoria-Geral da República, que concentrou a acusação nos pagamentos feitos a políticos de Brasília. Ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio, Costa Lima ajudou a coordenar, nos últimos meses, a campanha de Benedita a presidente estadual do PT.
Derrotada, a ex-governadora o indicou como representante de seu grupo político na nova Executiva do partido no Estado. Procurado pela Folha, o novo presidente do PT no Estado, Washington Quaquá, defendeu a nomeação de Costa Lima para o cargo e disse que o aliado é "sério, pobre e honestíssimo".
Como secretário de Finanças do PT fluminense, Costa Lima deve cuidar das contas da campanha do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) a governador em 2014.
OUTRO LADO
O novo tesoureiro do PT do Rio de Janeiro, Carlos Manoel da Costa Lima, reconheceu ter recebido R$ 100 mil do valerioduto e disse que o dinheiro era para pagar, em caixa dois, dívidas da campanha da ex-governadora do Rio Benedita da Silva.
Ele afirmou à Folha que cumpriu ordens de Delúbio Soares, então secretário nacional de Finanças do partido, e não sabia que o dinheiro vinha do empresário Marcos Valério de Souza.
"Eu pensava que o recurso fosse do PT. Não podia imaginar que fosse de outro lugar", disse Costa Lima. "Ninguém sabia que existia valerioduto, essas coisas", acrescentou.
O petista disse que a prática de caixa dois era generalizada na época, repetindo argumento usado na defesa dos condenados do mensalão. "Isso era chamado pelo Delúbio de dinheiro não contabilizado. Agora dizem que tudo era ilegal. Tem muita hipocrisia nisso", afirmou. "Não vou usar demagogia. Qualquer campanha deixa um tipo de pendência. Você precisa acertar", disse.
Costa Lima disse que pode comprovar que gastou os R$ 100 mil com dívidas da campanha, mas se recusou a mostrar os recibos à reportagem da Folha. "Considero que não fiz nada ilegal. Até hoje, não tenho nenhum problema com isso. Eu deito na cama tranquilamente", declarou.