Folha de S. Paulo


Em evento na Câmara, PT começa ato de desagravo a presos do mensalão

O PT deu início nesta terça-feira (10) aos atos de desagravo aos integrantes do partido condenados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no mensalão e que estão presos há quase um mês no complexo penitenciário da Papuda, em Brasília.

No lançamento de um livro sobre a história dos líderes da bancada do PT na Câmara, o presidente da sigla, Rui Falcão, deu o tom e saiu em defesa da imagem do ex-presidente do partido José Genoino (SP).

Segundo Falcão, a prisão do correligionário tirou do Congresso um dos mais brilhantes parlamentares. Para ele, a punição do Genoino foi motivada por questões políticas.

Pedro Ladeira/Folhapress
Rui Falcão, no lançamento do Livro 'Líderes do PT na Câmara, Trajetórias e Lutas', de Athos Pereira, ex-funcionário do PT
Rui Falcão, no lançamento do Livro 'Líderes do PT na Câmara, Trajetórias e Lutas', de Athos Pereira, ex-funcionário do PT

"A segunda peça [que a história nos pregou] é a que nos tirou do Parlamento um dos mais brilhantes parlamentares não apenas do PT, um tribuno de compromisso com a transformação social e vida digna e reta e que por desvão das lutas política teve agora privada sua liberdade, mas esta conosco como sempre esteve", disse.

Condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha, Genoino renunciou ao mandato na semana passada para escapar de um processo de cassação na Câmara. Com problemas cardíacos, ele está em prisão domiciliar, na casa de uma filha em Brasília.

No evento, foi exibido um vídeo com frases do ex-presidente do PT e o discurso de seu irmão e líder do PT, José Guimarães (CE), defendendo sua inocência e reforçando que seu único crime foi comandar o partido na época do esquema que desviou recursos públicos para abastecer a compra de apoio político no Congresso nos primeiros anos do governo Lula.

Escrito pelo militante do PT, Athos Pereira, o livro sobre os líderes do partido também reforça o desagravo a Genoino. O perfil do petista afirma que desde sua renúncia à presidência do PT ele vem sendo "achincalhado, humilhado e ofendido pela imprensa golpista". O texto ataca o Supremo afirmando que o julgamento foi "espetáculo rigorosamente cronometrado com o período eleitoral e distribuindo condenações sem provas, resolveu condenar Genoino.

A obra afirmou ainda que "Genoino foi preso arbitrariamente por ordem de Joaquim Barbosa [presidente do Supremo]. Gesto espetaculoso e ilegal confirma a natureza política da condenação de Genoino e utilização eleitoreira do STF para servir a interesses subalternos". O texto afirma ainda que a história vai absolver o petista.

As mesmas críticas à imprensa e ao STF são reforçadas no perfil do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) também condenado no mensalão. Neste outro perfil, o livro fala que "o PT e outros setores democráticos da sociedade receberam com espanto os procedimentos e métodos utilizados pelo STF nesse processo". "Eles parecem cheios de exceções caprichosas e desconsideram princípios do direito liberal.

Durante o dia, João Paulo circulou pela Câmara, mas não compareceu ao ato. Ele deve lançar uma revista nesta quarta-feira (11) intitulada "a verdade, nada mais que a verdade sobre a AP 470 [processo do mensalão]" e fazer um discurso em plenário se defendendo e acusando o STF de ter deixado de lado provas que comprovariam sua inocência.

O autor do livro disse que os perfis são importantes para contrapor a imprensa que "maltrata" o PT diariamente e citou que os ataques são da mídia que apoiou o regime militar, por exemplo. "É certo que o PT escreverá sua história. Não estamos à mercê daqueles que distorcem os fatos para vender imagem, deformada e perniciosa que tentam difamar a verdadeira trajetória do PT", completou.

Questionado se o livro seria um desagravo do PT pelas prisões do mensalão, Rui Falcão negou. Ele disse que os ataques ao Supremo são motivados por "dois pesos e duas medidas".

O presidente do PT disse ainda que não concorda com a tese do livro de mídia golpista. "Acho que há monopólio da mídia que precisamos democratizar", completou.

No segundo dia do 5º Congresso do PT, na sexta-feira, o partido também prepara um ato de desagravo a Genoino, ao ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) e ao ex-tesoureiro Delúbio Soares, que também estão presos pelo mensalão. Chamado de ato de solidariedade, ele será pautado pelas falas de familiares dos três petistas.


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