Folha de S. Paulo


Cocaína em helicóptero de deputado renderia R$ 22 mi, diz especialista

Pela cotação média do varejo nos grandes centros brasileiros, a carga de cocaína apreendida no último domingo (24) em helicóptero da família do senador Zezé Perrella (PDT-MG) renderia cerca de R$ 22 milhões no mercado de entorpecentes.

A avaliação é do jornalista Tarso Araújo, autor de "Almanaque das Drogas" (editora Leya, 2012).

Deputado usava verba pública para abastecer helicóptero apreendido com cocaína
Copiloto achava que drogas em helicóptero de deputado eram 'muamba', diz advogado

"Entrevistando traficantes e policiais no fim de 2011, apurei que o preço médio de um grama de cocaína nas ruas de São Paulo é de pelo menos R$ 50. De lá para cá, o preço não mudou", afirma Araújo.

O helicóptero da Limeira Agropecuária, empresa registrada em nome do filho do senador, o deputado estadual Gustavo Perrella (SDD-MG), foi apreendido pela Polícia Federal no interior do Espírito Santo após transportar 445 kg de cocaína. Pela cotação do varejo de R$ 50 o grama, o valor da carga pode ser estimado em R$ 22,25 milhões.

Divulgação/Polícia Federal no Espírito Santo
Polícia Federal apreende helicóptero com drogas de empresa do deputado estadual Gustavo Perrella (SDD-MG)
Polícia Federal apreende helicóptero com drogas de empresa do deputado estadual Gustavo Perrella (SDD-MG)

A estimativa ainda pode ser maior, afirma o jornalista, se considerada a prática do varejo de "batizar" a cocaína com outros produtos para aumentar o volume da droga.

"No Brasil, os varejistas desmancham essa cocaína e misturam a droga com vários tipos de pó branco --o mais comum é o fermento químico em pó. A proporção do 'batismo' varia. Um traficante que entrevistei confessou ter diluído uma parte de cocaína em oito de fermento", afirmou Araújo.

Um policial federal lotado em Vitória (ES), que pediu para não ser identificado, afirmou que o valor de mercado da cocaína varia por região do país, pois leva em conta fatores como frete.

O valor de R$ 50 pelo grama de cocaína, disse o policial, é mais comum para a droga de maior grau de pureza, consumida por pessoas de maior poder aquisitivo. Como há muita oferta de droga "batizada", afirmou, o preço tende a ser menor nesses casos.

A família Perrella nega envolvimento com o tráfico. Por meio de advogado, disse que o piloto havia informado apenas que faria um frete com a aeronave, e que essa prática é comum para arcar com despesas de manutenção do helicóptero.

O piloto, o copiloto e dois homens que descarregavam a droga estão presos. Piloto e copiloto negaram envolvimento da família Perrella nos primeiros depoimentos à Polícia Federal. Também disseram que desconheciam que a carga era de cocaína. Piloto disse que receberia R$ 106 mil pelo transporte --já o copiloto afirmou que o pagamento seria de R$ 60 mil.

O jornalista disse ainda acreditar que a droga tenha entrado no Brasil pelo Paraguai, já que um dos homens que descarregavam a droga afirmou saber que a carga tinha origem no país vizinho.

"O Paraguai é rota de cocaína há pelo menos quatro anos, droga vinda do Peru e da Bolívia. De fato, um dos receptadores da carga afirmou em depoimento que seu fornecedor opera em Ponta Porá [MS], cidade que faz fronteira com a paraguaia Pedro Juan Caballero", afirmou Araújo.

Piloto e copiloto disseram à PF apenas que carregaram o helicóptero na região de Avaré (SP), mas não deram mais detalhes.


Endereço da página:

Links no texto: