Folha de S. Paulo


Contratado por hotel, Dirceu espera decisão de Barbosa para trabalhar como gerente

Mesmo preso do regime semiaberto, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu foi contratado para ganhar R$ 20 mil por mês como gerente administrativo do hotel Saint Peter, área central de Brasília.

O contrato com o salário e o cargo já foi assinado na carteira de trabalho de Dirceu. Seu advogado, José Luis Oliveira Lima, enviará nesta terça-feira (26) ao presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, um pedido para que ele possa trabalhar no local. A corte informou que a autorização final será da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal.

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Caso receba autorização, Dirceu terá que deixar a prisão todos os dias para cumprir jornada das 8h às 17h. Em horário de almoço, poderá se deslocar até cem metros do local de trabalho. Na petição, a defesa de Dirceu diz que ele pleiteou o emprego três dias após a prisão, e, recentemente, o conseguiu.

Dirceu preencheu uma ficha de "solicitação de emprego". Afirmou que candidatou-se por "necessidade" e por "apreciar hotelaria e a área administrativa". Informou ainda que é "católico", pratica caminhadas como esporte e, nas horas vagas, gosta de ler, viajar e assistir a filmes. No mercado de Brasília, o salário para o cargo que Dirceu poderá exercer varia entre R$ 8 mil e R$ 12 mil.

O advogado de Dirceu, José Luis Oliveira Lima, disse que trata só das questões jurídicas de seu cliente, por isso não comentaria o valor do salário que, segundo ele, foi resultado de uma negociação com o empregador. Ele ressaltou, no entanto, que a experiência de Dirceu é um diferencial. "Quem administrou a Casa Civil, ministério mais importante da Esplanada, tem uma competência inegável", disse.

O contrato de Dirceu é assinado pela gerente-geral do hotel, Valéria Linhares. Na carteira de trabalho de Valéria, anexada à petição, consta que ela recebe bem menos do que poderá receber seu possível futuro colega de trabalho: R$ 1.800 por mês.

Condenado a 10 anos e 10 meses de prisão, Dirceu cumpre inicialmente uma pena de 7 anos e 11 meses pelo crime de corrupção. O restante de sua pena, ligada ao crime de formação de quadrilha, está suspensa devido a um recurso apresentado pela defesa, que pode reverter a condenação e só deve ser apreciado no ano que vem.

Segundo o Código Penal, o trabalho externo é "admissível" aos condenados no semiaberto. Cabe à defesa apresentar ao juiz a proposta de emprego, na qual o empregador aceita as restrições impostas ao trabalhador quanto à jornada e à locomoção.

Com 424 quartos, 16 andares e diárias que variam entre R$ 330 e R$ 1.200, o Saint Peter já foi de Sérgio Naya, deputado cassado e preso por causa do desabamento do edifício Palace 2, no Rio. Hoje, pertence a três sócios: Paulo Masci de Abreu, empresário do ramo das comunicação, Raul de Abreu, seu filho, e a empresa Truston International Inc, com sede no Panamá. Raul é procurador da Truston.

A advogada do hotel, Rosane Ribeiro, afirmou que não há relação de amizade entre os sócios e o condenado. Segundo ela, o hotel foi procurado por Dirceu, verificou que ele poderia exercer a função e o contratou, "já que o preso tem o direito".

Editoria de Arte/Folhapress

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