Folha de S. Paulo


Ex-presidente da UDR é condenado por morte de sem-terra no Paraná

O fazendeiro Marcos Prochet, ex-presidente da UDR (União Democrática Ruralista) no noroeste do Paraná, foi condenado na noite desta sexta-feira (22) pelo assassinato do sem-terra Sebastião Camargo, ocorrido em 1998.

Camargo tinha 65 anos quando foi morto com um tiro na nuca, durante um despejo forçado de sem-terras na fazenda Boa Sorte, em Marilena (noroeste do Paraná). O local estava ocupado havia três meses. Hoje, é um assentamento onde vivem cerca de 40 famílias.

Segundo relatos de testemunhas, pistoleiros e proprietários rurais tentaram expulsar os invasores a tiros, numa ação durante a madrugada. Camargo não conseguia se deitar no chão por um problema de coluna, e por isso foi baleado.

O júri de hoje concluiu que Prochet, na época presidente regional da UDR, foi o autor do tiro que matou Camargo. Ele foi condenado a 15 anos e 9 meses de prisão por homicídio duplamente qualificado, mas pode recorrer da sentença em liberdade.

Prochet nega ter participado da ação e diz que irá recorrer. No julgamento, ele afirmou que estava em casa quando o despejo aconteceu. Testemunhas ouvidas durante o processo, porém, disseram que o viram na fazenda e disparando contra Camargo.

A viúva e um dos filhos de Camargo estiveram na sessão do júri, realizada em Curitiba e encerrada por volta das 22h. A família vive atualmente em um assentamento em Ramilândia, no oeste do Paraná.

CONFLITOS

Naquela época, os conflitos entre sem-terra e fazendeiros no Paraná eram numerosos. Proprietários rurais foram denunciados na Justiça por formarem milícias ilegais. Já os fazendeiros acusavam o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) de desrespeitarem o direito à propriedade privada.

Em oito anos, entre 1995 e 2002, 16 sem-terra foram mortos durante confrontos no Paraná, segundo a ONG Terra de Direitos.

No ano passado, outras duas pessoas foram condenadas pela morte de Camargo: o proprietário rural Teissin Tina, dono da fazenda Boa Sorte, e Osnir Sanches, pistoleiro acusado de ser o comandante da ação daquela madrugada. Ambos recorrem da sentença em liberdade.

A morte de Camargo, que ficou 14 anos sem julgamento, levou o Estado brasileiro a ser responsabilizado pelo crime pela Corte Interamericana de Direitos Humanos em 2012, poucos dias antes do júri de Tina e Sanches -- que também negam participação no episódio.


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