Folha de S. Paulo


Exumação dos restos mortais de Jango lota hotéis de São Borja (RS)

A cidade de São Borja (RS), na fronteira com a Argentina, revive dias de agitação com a exumação dos restos mortais do presidente João Goulart (1919-1976), o Jango, deposto pelo golpe militar de 1964.

Efervescência que, segundo a prefeitura, não era vista desde o enterro do governador Leonel Brizola (1922-2004), cunhado de Jango. Ambos foram enterrados no jazigo da família Goulart.

Também em São Borja está enterrado o presidente Getúlio Vargas (1882-1954), o que rendeu à cidade o apelido de "terra dos presidentes".

A abertura do jazigo de Jango está marcada para as 7h de hoje. Os restos mortais serão inseridos em uma urna e deixarão o cemitério de carro até o aeródromo local. De lá, seguirão de helicóptero até a base militar em Santa Maria, também no RS.

A expectativa é que a população possa prestar homenagens a Jango durante o trajeto de carro em São Borja.

Amanhã, a urna será levada em avião da FAB de Santa Maria a Brasília, onde serão feitos os primeiros exames.

Editoria de Arte/Folhapress
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Ontem, autoridades federais, peritos e jornalistas movimentaram o centro e o entorno do cemitério. Hotéis estavam lotados, e moradores da região chegavam para acompanhar a exumação.

Gerente do hotel Almanara, no centro, Joice Antunes disse que nesta semana foi preciso organizar uma fila de espera para reserva de leitos.

Uma tenda foi montada no local da sepultura. Somente familiares, autoridades e peritos poderão entrar no cemitério durante a exumação.

Ontem à noite houve audiência pública em São Borja com presença dos ministros Maria do Rosário (Direitos Humanos) e José Eduardo Cardozo (Justiça).

Cardozo referiu-se ao processo como "momento histórico" e disse que os brasileiros não tiveram acesso a "muita coisa" que ocorreu na ditadura. Rosário negou viés político e disse se tratar de questão "pedagógica" para o país dizer que "assumiu caminho definitivo para a democracia".

Moradores temiam que os restos mortais não voltassem mais para o município. A questão foi resolvida após o governo federal se comprometer a devolvê-los no dia 6 de dezembro, quando a morte completa 37 anos --compromisso nesse sentido foi assinado ontem na audiência.

A causa oficial da morte de Jango foi infarto, mas a família e o governo suspeitam de assassinato por envenenamento por forças da ditadura militar (1964-1985). Não houve autópsia na época.

Segundo o governo federal, os exames vão buscar traços de remédios usados por Jango --um ex-agente da repressão uruguaia já disse ter participado de ação para matá-lo por envenenamento.

Suspeita-se que Jango possa ter sido morto em uma ação da Operação Condor, a aliança entre ditaduras do Cone Sul para prender e matar opositores no exterior.


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