Folha de S. Paulo


Irã quer conversar com autoridades brasileiras sobre espionagem da Abin

Uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã disse nesta terça-feira (5) que Teerã irá conversar com as autoridades brasileiras sobre o monitoramento que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) realizou com alguns de seus diplomatas.

"Definitivamente, a espionagem é condenada de qualquer forma. Nós estamos cientes da notícia e estamos tentando discutir o assunto com as autoridades brasileiras. Nossa posição definitiva sobre o assunto será dada após encontro com as autoridades brasileiras", disse a porta-voz iraniana.

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A Folha revelou ontem que o governo brasileiro espionou diplomatas iranianos. Segundo o relatório, que foi elaborado pelo Departamento de Operações de Inteligência da Abin, funcionários da embaixada do Irã foram vigiados para que a Abin identificasse seus contatos no Brasil.

Em abril de 2004, os agentes da Abin seguiram diplomatas iranianos a pé e de carro para fotografá-los e registrar suas atividades na embaixada e em suas residências em Brasília, conforme o relatório. O governo afirmou que eram ações de contraespionagem.

Na operação "Xá", que monitorou a rotina e os contatos de diplomatas iranianos, a Abin seguiu os passos do então embaixador do Irã em Cuba, Seyed Davood Mohseni Salehi Monfared, durante uma visita ao Brasil, entre os dias 9 e 14 de abril de 2004.

Um agente da Abin que examinou o relatório a pedido da Folha afirmou que provavelmente os iranianos foram vigiados a pedido do serviço secreto de outro país, um tipo de cooperação usual entre órgãos de inteligência.

As operações descritas no relatório ocorreram no início do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tomou posse em 2003 e entregou o cargo a Dilma em 2011.

OUTROS CASOS

O principal braço de espionagem do governo brasileiro também monitorou diplomatas de países como o Iraque, a Rússia e a França. O relatório mostra que o governo brasileiro espionou a embaixada do Iraque após a invasão do país pelos EUA, em 2003. Na época, muitos diplomatas buscavam refúgio no Brasil por causa da guerra, e por isso a Abin foi mobilizada para segui-los.

O então encarregado de negócios da embaixada, um dos que foram espionados, largou a diplomacia para se fixar no Brasil. Ele ganhou residência permanente e vive no Guará, nos arredores de Brasília.

Ontem, a embaixada iraquiana em Brasília disse que mantém "absoluta confiança na força que caracteriza as relações entre o Iraque o Brasil" e destacou o "enorme desejo" que os países elevem as relações "em todos os sentidos". A embaixada confirmou ainda que não foi oficialmente avisada pelo governo sobre o monitoramento.

Na operação "Miucha", de 2003, a Abin acompanhou a rotina de três diplomatas russos, incluindo o ex-cônsul-geral no Rio Anatoly Kashuba, que deixou o país no mesmo ano, e representantes da Rosoboronexport, a agência russa de exportação de armas. A Abin desconfiava que os funcionários russos estivessem envolvidos com atividades de espionagem no Brasil.

O brasileiro Fernando Gianuca Sampaio, cônsul honorário da Rússia em Porto Alegre, também foi monitorado pelo mesmo motivo. "Sou sim um agente russo, mas um agente oficial", disse Sampaio à Folha, em tom irônico.

A Folha revelou hoje que o Brasil investigou se agentes do serviço secreto francês promoveram ação de sabotagem para explodir à base de lançamento de satélites de Alcântara, no Maranhão.

Em 2003, um acidente no local matou 21 pessoas, entre engenheiros e técnicos do CTA (atual Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial), órgão da Aeronáutica.

A Folha obteve documento secreto da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) que revela pelo menos três operações de contraespionagem cujos alvos eram espiões franceses e seus contatos brasileiros e estrangeiros.

Houve também monitoramento do serviço de inteligência em órgãos de cooperação e cultura ligados à Embaixada da França. O objetivo era proteger o setor espacial brasileiro da espionagem internacional.

Editoria de Arte/Folhapress

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