Folha de S. Paulo


Empresas contratadas para instalar cisternas deixaram de preparar o terreno

Empresas contratadas para instalar as cisternas de polietileno no semiárido cearense estão repassando às vítimas da seca o trabalho de cavar o terreno onde os reservatórios serão implantados.

A distribuição da tarefa às famílias afetadas inclui a promessa de pagamento de R$ 50, o que ainda não ocorreu. O calote foi relatado à Folha por beneficiários que fizeram esse tipo de trabalho em Acopiara e Canindé.

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Representantes das empresas confirmam a pendência nos pagamentos, mas dizem que os acordos serão cumpridos nas próximas semanas.

Nesses municípios, as empresas responsáveis pela implantação das cisternas são, respectivamente, a cearense Edmil Construções e a potiguar Campo Construções (que subcontratou a A&C Construções, também do RN).

Juntos, os contratos dessas duas empresas somam cerca de R$ 30 milhões com governos do Ceará e federal para implantar as cisternas em uma série de municípios.

Ao repassar parte do trabalho aos beneficiários, as firmas ampliam o lucro, ao economizar com a mão de obra. Sob o temor de perder as cisternas, os beneficiários têm receio de reclamar.

Em Acopiara, o agricultor José Soares de Lima, 58, diz que que chamou o filho e um genro para cavar o buraco, num trabalho de dois dias. "Ainda não ouvi falar de ninguém que recebeu", afirma. "Não é um dinheirão, mas é um prometimento."

A Folha também ouviu relatos semelhantes em Canindé. "Não pagaram, mas não tem problema não", afirma um beneficiário que pediu para não ser identificado.

O coordenador da Edmil Construções, Jucilane Braga, disse que a greve dos bancos "atrapalhou muito" o pagamento e que estão regularizando "aos poucos". Segundo ele, a empresa envolveu os moradores nas escavações para agilizar a instalação.

O coordenador de implantação das cisternas em Canindé pela A&C Construções, Francisco Mourão, disse: "Algumas [famílias] onde estamos instalando [as cisternas] já estão sendo ressarcidas".


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