Folha de S. Paulo


Em Mato Grosso, morte de dono de jornal faz comendador ir a novo julgamento

Começa nesta quinta-feira (24), no Fórum de Cuiabá (MT), o julgamento de João Arcanjo Ribeiro, o comendador Arcanjo, acusado de ser o mandante do assassinato do empresário Domingos Sávio Brandão, dono do jornal "Folha do Estado", em 2002.

Preso desde 2003 por outros crimes, o comendador Arcanjo, bicheiro considerado o antigo chefe do crime organizado em Mato Grosso, cumpre pena em um presídio federal em Campo Grande (MS) por lavagem de dinheiro, ocultação de bens e formação de quadrilha. Ele também é acusado de envolvimento em outros homicídios.

Na terça-feira (22), o desembargador Rui Ribeiro, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, negou pedido da defesa de Arcanjo para desmarcar o júri desta semana e transferi-lo para outra comarca próxima a Cuiabá.

Segundo a defesa, a imprensa local "solidária à vítima produziu um massacre publicitário" contra Arcanjo, o que poderia interferir no resultado do júri.

O desembargador considerou, porém, que a repercussão da morte de Brandão foi "natural" e que não há fatos objetivos que comprovem que a ordem pública esteja ameaçada ou que os jurados serão parciais --condições para a transferência do julgamento.

Marcos Bergamasco - 9.mai.06/Folhapress
Em 2006, João Arcanjo Ribeiro participa de julgamento sobre assassinato de dono de jornal
Em 2006, João Arcanjo Ribeiro participa de julgamento sobre assassinato de dono de jornal

HISTÓRICO

Comendador Arcanjo mantinha bancas de jogo do bicho de sua empresa, a Colibri, em cidades mato-grossenses como Cuiabá e Rondonópolis (a 220 km da capital do Estado).

Em dezembro de 2002, durante a Operação Arca de Noé, a Polícia Federal fez uma devassa em seu patrimônio, estimado na época em R$ 1,2 bilhão. Arcanjo fugiu para o Uruguai, mas acabou preso naquele país e foi extraditado.

O bicheiro, que é ex-policial civil, tinha contatos com políticos, conforme afirmou em vários depoimentos. O título de comendador vem de uma comenda outorgada a ele pela Câmara Municipal de Cuiabá, antes de as denúncias virem à tona.

O dono do jornal "Folha do Estado", Domingos Sávio Brandão de Lima Júnior, foi morto por pistoleiros em setembro de 2002.

Segundo declarações do Ministério Público Federal à época, o empresário publicava em seu jornal reportagens que prejudicavam a organização criminosa comandada por Arcanjo. Ele nega participação na morte.


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