Folha de S. Paulo


Após derrota no TSE, 1º aliado de Marina se filia a outra legenda

Um dos principais articuladores da Rede Sustentabilidade ao lado de Marina Silva, o deputado federal Domingos Dutra (MA) assinou no início da tarde desta sexta-feira (4) sua filiação ao Solidariedade, partido montado pelo presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva.

A assinatura de filiação ocorreu em São Luís, momentos depois de o deputado comunicar ao PT de Paço do Lumiar (MA) a sua desfiliação.

"Estou decepcionado e frustrado. Levamos sete meses para tentar montar a Rede, e agora morremos na praia", disse o deputado, que criticou a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Fundador do PT no Maranhão há 33 anos, Dutra estava rompido regionalmente com o partido desde que o PT se aliou ao grupo político do senador José Sarney (PMDB-AP).

Alan Marques - 10.jun.10/Folhapress
Após derrota no TSE, deputado federal Domingos Dutra (MA) se filia ao Solidariedade
Após derrota no TSE, deputado federal Domingos Dutra (MA) se filia ao Solidariedade

Ele tinha convite também do PSB do governador Eduardo Campos (PE), mas afirmou que tinha o receio de que seu mandato fosse cassado por infidelidade partidária. A lei permite a migração apenas em alguns casos, entre eles para o ingresso em uma nova legenda, como o Solidariedade.

Dutra disse ter acertado com Paulo Pereira da Silva que ele continuará apoiando o governo Dilma Rousseff. O deputado também defende que Marina Silva se filie ao PPS para disputar a Presidência da República em 2014. "O PPS tem mais capilaridade nos Estados e uma bancada federal aguerrida", afirmou.

Marina deve anunciar o que fará do seu futuro político na tarde desta quinta-feira.

VOTAÇÃO NO TSE

O Tribunal Superior Eleitoral negou o registro da Rede Sustentabilidade por 6 votos a 1, após concluir que seus organizadores não alcançaram o respaldo popular exigido pela legislação, de pelo menos 492 mil eleitores --faltaram quase 50 mil assinaturas.

"Não temos o registro, mas temos a ética", disse Marina a aliados que a abraçaram após o fim da sessão, que ela acompanhou no plenário do TSE.

A ex-senadora chegou ao TSE de braços dados com a socióloga Maria Alice Setubal, uma das herdeiras do banco Itaú, e ao lado de articuladores da Rede e de seis congressistas que pretendiam se filiar à nova legenda.

As esperanças da Rede começaram a ruir logo no início da sessão, com o voto da relatora do processo, Laurita Vaz, que considerou "inconcebível no ordenamento jurídico" o pedido da Rede para que o TSE aceitasse quase 100 mil assinaturas rejeitadas sem justificativa pelos cartórios eleitorais nos Estados.

Editoria de Arte/Folhapress

Os argumentos da Rede contra os cartórios foram rebatidos por vários ministros. "Ou nos submetemos à lei ou teremos o caos. Voto lamentando, mas não tenho como juíza, outra opção que não seja seguir a lei", disse a presidente do TSE, Cármen Lúcia.

Também votaram contra a Rede os ministros Marco Aurélio Mello, Henrique Neves e João Otávio Noronha. Único a apoiar o pedido do partido, o ministro Gilmar Mendes acusou os cartórios de abuso e disse ter havido uma orquestração contra Marina.

Mendes lembrou projeto do Congresso, defendido nos bastidores pelo Planalto e pelo PT, que visava sufocar a criação de novos partidos. "É a lei mais casuística que se fez nesses últimos anos, é de se corar frade de pedra", disse o ministro, que chegou a suspender a sua tramitação.

"Não vamos dizer agora: Ah, senadora Marina, não deixe de trabalhar, porque como sempre há Carnaval, há eleição'", acrescentou, ironizando a atitude de outros ministros que sugeriram a Marina que continue buscando as assinaturas que faltaram para organizar sua legenda.

O julgamento de ontem ocorreu exatos três anos depois da eleição presidencial de 2010, quando Marina teve 19,6 milhões de votos e saiu das urnas como a terceira maior força política nacional.


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