Folha de S. Paulo


Ainda sem registro oficial, Rede já sofre cisão em Minas

Sob risco de não conseguir o registro no julgamento de hoje no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a Rede Sustentabilidade, partido que a ex-senadora Marina Silva tenta criar, enfrenta uma cisão no segundo maior colégio eleitoral do país, onde ainda nem conseguiu formar seu diretório estadual.

Algumas das lideranças mais representativas da Rede em Minas Gerais acusam o principal dirigente do partido no Estado de reproduzir "o que há de pior no comportamento político" e utilizam termos como "cinismo", "desonestidade intelectual", "toma-lá-dá-cá" e "vale-tudo" para descrever sua atuação.

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O alvo das críticas é o ex-deputado José Fernando Aparecido de Oliveira, coordenador-geral de coleta de assinaturas de apoio à Rede-MG e coordenador financeiro nacional da sigla.

As acusações foram elencadas em um manifesto lido numa reunião da comissão nacional da sigla, instância máxima de deliberação da Rede, em Brasília, causando constrangimento. Oliveira não estava presente.

O texto é assinado por Cássio Martinho, que divide com Marina o cargo de "porta-voz" do partido --equivalente a presidente, e por outros dois fundadores.

O grupo de Martinho rompeu com Aparecido e criou um "coletivo autônomo", com atividades e articulação próprias. O bloco, que afirma ter o reconhecimento da Executiva nacional para justificar a cisão, também tem respaldo de dirigentes da Rede em outros Estados e tenta arregimentar apoios em uma petição disponível na internet.

O fato de a discussão ter se tornado pública, no entanto, provocou insatisfação fora de Minas. Uma das críticas é que, ao anunciar a cisão sem ouvir outras instâncias partidárias, o grupo de Martinho repetiria as práticas da "velha política" que diz querer combater.

A divisão é apontada como o motivo pelo qual o diretório mineiro nem sequer teve o pedido de registro protocolado na Justiça Eleitoral. Aparecido nega que as divergências atrapalhem o processo. "Mesmo porque eu não deixo misturar as coisas", diz.

O manifesto diz que o ex-deputado buscou repassar recursos a aliados sem aval do partido. "Não tenho conhecimento", responde ele.

O grupo de Aparecido também é acusado de não prestar informações solicitadas pelo partido e de usar critérios de "afinidade política" para a ocupação de postos-chave na formação da sigla.

Os dissidentes afirmam ainda que o ex-deputado age como "dono" do partido e define candidaturas sem aval do coletivo e promete presidências de diretórios municipais a aliados.

A imprensa local já publicou que Aparecido é cotado a concorrer ao governo mineiro em 2014 pela Rede. Em 2010, ainda no PV, ele disputou o cargo para dar um palanque à candidatura presidencial de Marina no Estado.

"Posso vir a ser candidato se o partido decidir", diz o coordenador. Ele afirma que seu foco é cumprir a meta de retiradas de fichas certificadas nos cartórios eleitorais para a criação do partido.

A Folha procurou Cássio Martinho, mas ele não respondeu às ligações da reportagem. A assessoria da Rede evitou comentar a cisão. Classificou o racha como "um debate que é parte do processo democrático" e disse que "se busca um consenso".

TOCANTINS

Episódios semelhantes aos de Minas já aconteceram com a Rede em outros Estados, mas não tiveram a repercussão alcançada por esse caso.

Em Tocantins, a disputa por espaço levou um dos fundadores do partido, o jornalista e consultor político Melck Aquino, a entregar seu posto na direção nacional em março. Na ocasião, disse não ter apego a cargos e criticou um grupo da sigla no Estado.

Quatro meses depois, ele foi integrado à comissão estadual da Rede em Tocantins, ao lado de alguns integrantes com quem havia trocado farpas. "Sentamos, conversamos e resolvemos internamente, tanto que não chegou a ter exposição pública", diz.

Ele afirma que o caso de Minas é mais grave, por ser "uma disputa ideológica, de condução política", e define o que aconteceu em Tocantins como um problema "organizacional" na montagem do partido.

"Divergências por ocupação de espaço sempre vão existir. O partido não pode ser visto como uma religião. Os conflitos não podem ser sufocados, senão vira uma seita", diz Aquino.


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