Folha de S. Paulo


Para aliados, Marina não perderá força se ficar fora da eleição

Na véspera da decisão da Justiça Eleitoral sobre a criação da Rede Sustentabilidade, aliados de Marina Silva defendem que ela não se filie a outro partido caso o registro seja negado e dizem que a opinião já foi compartilhada pela ex-senadora.

Marina tem o convite de pelo menos dois partidos: o PPS, que faz oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff, e o nanico PEN, criado em 2012. Para o núcleo não político próximo a Marina, o ingresso em uma sigla existente é conflitante com a ideia de renovação da política, que tem sido a base de seu discurso para criar a Rede.

Eles consideram que o capital político da ex-senadora, que recebeu 19,6 milhões de votos em 2010 e que atingiu 26% em pesquisa do Datafolha feita em agosto, não seria perdido caso ela deixasse de se candidatar em 2014 --o que também preservaria o discurso de renovação para 2018, quando a Rede estaria criada.

Lembram que, depois do terceiro lugar na disputa que elegeu Dilma e da sua desfiliação do PV, em 2011, Marina passou um tempo afastada de eventos públicos e, ainda assim, manteve o que consideram bons índices de intenção de voto nas pesquisas.

Enquanto trabalhava para montar a Rede, ela chegou a falar que seu "ostracismo" era apenas em relação à "velha política". "Quem está no ostracismo são esses que não são capazes de perceber esse novo sujeito político", disse em julho, após a onda de protestos que tomou o país.

Aliados mais próximos do núcleo político têm ressalvas à ideia. Acham que não participar da disputa presidencial enfraqueceria a possibilidade de segundo turno e tiraria a sustentabilidade da pauta da campanha.

Todos, no entanto, ponderam que não há decisão tomada e que a discussão sobre o tema não é feita abertamente. Marina tem dito que confia na Justiça e que não discute o futuro sem a Rede.

Para o deputado Alfredo Sirkis, hoje no PV do Rio de Janeiro, que faz parte da Executiva provisória da Rede, "não há uma solução natural". "Se ela se filiar [a outro partido], vai passar a campanha explicando apontamentos sobre possíveis contradições. Mas isso não significa que ela não possa se filiar."

O presidente do PEN, Adilson Barroso, disse que a ex-senadora poderia se filiar ao partido e continuar o processo de coleta de apoios para montar a Rede. Quando a sigla estivesse pronta, as duas se fundiriam. O presidente do PPS, Roberto Freire, diz que seu partido permanece aberto à filiação da ex-senadora.

Apesar da incerteza, o deputado federal Walter Feldman (SP), um dos principais aliados de Marina, desfiliou-se ontem do PSDB, partido que ajudou a fundar em 1988.


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