Folha de S. Paulo


Alckmin evita comentar queda de suspeito de vazar dados do Metrô de SP

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), evitou comentar diretamente sobre a queda do engenheiro Pedro Benvenuto, secretário-executivo do Conselho Gestor do Programa de PPPs (Parceria Público-Privadas), envolvido no repasse de dados do Metrô a uma empresa de consultoria.

Alckmin disse apenas que "respeita o pedido de demissão" e que quer a investigação absoluta e, se comprovada a participação de algum servidor, ele será responsabilizado. "Em relação ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), a transparência é total. Nós queremos a investigação absoluta e a apuração da verdade. Se tiver algum servidor público que tenha participado de conluio entre empresas ele será punido e responsabilizado."

A declaração foi dada manhã desta quinta-feira (26) durante a inauguração da quinta faixa da rodovia Ayrton Senna, em direção ao interior do Estado, em Guarulhos (Grande SP). Com a nova faixa, os motoristas reduzirão o tempo de viagem até o acesso ao aeroporto internacional de Guarulhos.

Benvenuto pediu ontem demissão do cargo, dois dias após a Folha ter revelado que havia suspeitas de que ele repassara dados do Metrô para empresa de Jorge Fagali Neto, investigado pela Polícia Federal desde 2008 sob suspeita de ter intermediado o pagamento de propina da multinacional francesa Alstom a políticos. E, também, após ser questionado pela Folha sobre outra consultoria, a Projob, em que é sócio do filho.

Sobre a relação entre o presidente do Cade, Vinícius Marques de Carvalho, e o deputado estadual Simão Pedro (PT), Alckmin disse que tem que explicar é o presidente do Cade. "O presidente do Cade é quem deve explicar por que omitiu em seu currículo a sua filiação e o fato de ter trabalhado na liderança do PT", disse o governador.

O senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB e provável candidato do partido à Presidência da República, classificou como "extremamente grave" o fato de o presidente do Cade ter omitido em seu currículo que trabalhou com o deputado petista. A declaração foi dada na edição de hoje do jornal "O Estado de S. Paulo".

DADOS SIGILOSOS

O acesso de Fagali Neto aos dados do Metrô e da CPTM foi indicado por Edna Flores, ex-secretária do consultor. E-mails do ano de 2006 entregues por ela ao Ministério Público e à Polícia Federal mostraram que Benvenuto enviou informações sobre investimentos do Metrô antes de eles se tornarem públicos.

Edna afirmou à Folha que Benvenuto frequentou o escritório de Fagali Neto no período em que ela trabalhou para o consultor, de 2006 a 2009, quando Benvenuto trabalhava na Secretaria dos Transportes Metropolitanos.

A secretaria disse que as informações eram públicas, mas não conseguiu mostrar à Folha em que documentos elas estavam.

PROJOB

A Projob prestou serviços aos metrôs de Fortaleza e Salvador, contratada pelo Banco Mundial. O estatuto do funcionalismo proíbe servidores de atuar como administrador de empresas privadas. Servidor só pode ser sócio cotista, sem atuação direta.

Benvenuto disse em nota à Folha que é "plenamente legal" ter a empresa "desde que nela atue em horários não conflitantes com sua atividade pública e que não haja conflito de interesses".

O engenheiro é funcionário de carreira do Metrô e estava cedido à Secretaria do Planejamento, onde funciona o comitê gestor das PPPs. Ele recebe R$ 1.040 pelo cargo de coordenador na secretaria do Planejamento e R$ 6.177 por integrar o conselho de administração da Companhia Paulista de Parcerias.

O Portal da Transparência do governo não menciona o salário dele no Metrô. A companhia não quis informar a a faixa salarial do engenheiro. Benvenuto administrava contratos no valor de R$ 13 bilhões, como a PPP da linha 4 do Metrô, e projetos de R$ 45 bilhões. Seu filho trabalhou em empresas que têm parcerias com o governo.

Ele disse que pediu demissão por causa da menção feita pela Folha ao filho, Lucas Benvenuto, que classificou de "baixeza": "Não aceito ilações a meu respeito e muito menos em relação a meu filho". A Folha procurou Lucas na empresa em que ele trabalha, sem sucesso.


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