Folha de S. Paulo


Análise: Quais são os interesses por trás da criação de novos partidos?

O Brasil passa, atualmente, por um novo ciclo de criação de partidos políticos. Com o surgimento do Solidariedade, montado pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), e do Pros (Partido Republicano da Ordem Social), montado por Euripedes de Macedo Jr., ex-vereador do interior de Goiás, o quadro político passou a contar com 32 legendas.

Se considerarmos que a Rede, de Marina Silva, e alguns outros também estão em fase de obtenção de registro, poderemos atingir nosso recorde histórico, antes registrado nas eleições de 1990 e 1992, quando 34 partidos participaram das disputas eleitorais.

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Todavia, algumas indagações acerca dessa profusão de siglas merecem ser feitas. A primeira é sobre quais interesses coletivos ou ideológicos orientam a criação de novos partidos. A segunda tem a ver com as implicações para o processo eleitoral.

Sobre a primeira, vale dizer que desde a redemocratização a lógica tem sido acomodar interesses das lideranças. Isso ocorreu com Collor quando criou o PRN para viabilizar sua candidatura presidencial em 1989 e também como o Prona, que acabou projetando nacionalmente o folclórico Enéas no mesmo ano.

Em 2011, a criação do PSD esteve intimamente ligada aos projetos de poder do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. Tanto que, durante o processo de criação da legenda, ele demonstrou o descompromisso do partido com a ideologia ao anunciar que a legenda não seria "de direita, de esquerda, nem de centro". A dúvida persiste até hoje: quais grupos sociais o PSD representa?

Quanto a segunda indagação, o excesso de siglas acaba confundindo o eleitor, que não diferencia claramente propostas. Isso fortalece escolhas centradas em personalidades públicas em detrimento do debate de ideias. Basta ver que a grande discussão do momento é saber quais nomes estarão nas disputas eleitorais de 2014, não quais projetos serão apresentados.

Por fim, como passamos por um momento em que novas legendas estão prestes a surgir, é preciso ficar muito atento a dois detalhes: quem financia a viabilização desses novos partidos?

Quais são os métodos que adotam para coletar assinaturas de pessoas que apoiam sua criação? Talvez por trás dessas respostas existam algumas pistas sobre a que interesses eles representam e como podem se comportar no trato da coisa pública.

Marco Antonio Teixeira é cientista político e professor da FGV


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