Folha de S. Paulo


Governo de Minas fecha acordo para nova perícia sobre morte de JK

Dezessete anos após uma perícia não apontar elementos que indiquem que a morte do então ex-presidente Juscelino Kubitschek, em acidente de carro em 1976, foi um atentado, o governo de Minas Gerais concordou em realizar novos exames sobre o caso.

O ex-presidente e seu motorista, Geraldo Ribeiro, morreram em viagem de São Paulo ao Rio, na rodovia Presidente Dutra, após o carro em que estavam se chocar com um caminhão. Desde então, passou-se a especular sobre um possível atentado contra JK, que fora perseguido pela ditadura militar (1964-1985).

A disposição do governo mineiro em retomar o caso foi divulgada nesta segunda-feira (23), após reunião entre o presidente da Comissão da Verdade Municipal de São Paulo, vereador Gilberto Natalini (PV), e o secretário de Defesa Social de Minas Gerais, Rômulo Ferraz.

Natalini solicitou nova perícia em um fragmento metálico cilíndrico que foi encontrado junto ao restos mortais do motorista do ex-presidente em 1996, quando o corpo foi exumado a pedido do amigo e ex-secretário de JK, Serafim Jardim.

Divulgação
Presidente Juscelino Kubitschek acena para a multidão em carro aberto, em São Bernardo do Campo (SP), em 1959
Presidente Juscelino Kubitschek acena para a multidão em carro aberto, em São Bernardo do Campo (SP), em 1959

Ao informar o resultado da reunião, o governo mineiro disse ter ficado "acordado que o Estado de Minas Gerais irá localizar em seus arquivos a perícia realizada em 1996 e que apontou que um fragmento metálico encontrado no crânio do motorista era um prego do caixão e não uma bala".

A Folha questionou o governo se haverá dificuldade em localizar o fragmento extraído do crânio na exumação de 1996. Em resposta, foi dito que o perito "esclareceu que todos os laudos são mantidos em arquivos do IML".

Segundo Natalini, o novo exame deverá ser acompanhado por técnicos indicados pela Comissão da Verdade paulistana.

"Se aquele fragmento de metal que estava na cabeça do motorista for de projétil de arma de fogo, acabou o problema, porque esta é a suspeita: que o motorista recebeu um tiro na cabeça e perdeu o controle do carro, provocando o acidente", afirma o vereador paulista.

REUNIÃO

Também estavam na reunião Serafim Jardim, que em 1996 pediu a a exumação dos restos mortais de Geraldo Ribeiro, e Márcio Alberto Cardoso, coordenador do setor de antropologia do IML (Instituto Médico Legal) de Minas Gerais e então chefe da seção de perícias do IML em 1996.

Segundo Jardim, Cardoso disse na reunião que o material metálico pode ter sofrido deterioração por ter sido submetido a produtos químicos há 17 anos.

Filha adotiva de JK, a arquiteta Maria Estela Kubitschek afirma não acreditar que a morte tenha sido provocada. "Não acredito que papai tenha sido assassinado ou que tenham provocado o acidente que acabou na morte dele", disse à Folha. "Foi o destino. Eu acredito no destino."

A arquiteta diz ainda acreditar nas perícias que já foram feitas sobre o caso.

Em 2001, uma comissão criada na Câmara dos Deputados para investigar as causas da morte de JK também concluiu que o acidente foi uma fatalidade. A comissão foi presidida pelo então deputado Paulo Octávio (ex-PFL-DF), casado com a neta do ex-presidente, e ouviu mais de 30 pessoas durante dez meses de investigações.

A retomada do caso JK também foi solicitada pela seção mineira da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Em setembro do ano passado, o órgão pediu à Comissão Nacional da Verdade, em Brasília, a "reabertura do caso da morte de JK, a bem da verdade e da história de nosso país".

EXUMAÇÃO

Além da nova perícia no material metálico, Natalini também quer que seja realizada uma nova análise nos restos mortais do motorista de JK.

O objetivo é investigar se um orifício encontrado no crânio de Ribeiro durante a exumação de 1996 foi causado por tiro de arma de fogo ou é consequência de esfarelamento ósseo, como apontado por peritos na época.

O vereador afirmou que a comissão irá verificar o que é necessário para obter uma autorização judicial para a nova exumação.


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