Folha de S. Paulo


Bolsonaro discute com integrantes da Comissão da Verdade para entrar no DOI-Codi

Bate-boca e agressões marcaram o início da visita de representantes das comissões estadual e nacional da Verdade, além de parlamentares, à sede do primeiro Batalhão do Exército nesta segunda-feira (23).

No local funcionou, durante a ditadura militar (1964-1985), o DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna). Os parlamentares eram contra a presença do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ). No portão de entrada do Batalhão, o deputado Bolsonaro discutiu com o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).

Rodrigues disse ter levado um soco do deputado. "Ele me deu um soco por baixo. Deve ter aprendido em algum centro de tortura. O Bolsonaro é um Brasil que a gente vai virar a página. Aliás, já virou", afirmou o senador.

O deputado Jair Bolsonaro nega a agressão. "Não agredi ninguém. Ali, naquela confusão, posso ter dado um empurrão, nada além para a tristeza de vocês. Houve apenas troca de elogios. Ele me chamou de vagabundo. Agora, vai ficar todo mundo contra mim", declarou o deputado Bolsonaro.

Após os empurrões e agressões, a comissão entrou acompanhada do deputado. Permaneceu pouco mais de uma hora visitando as instalações do batalhão. Primeiro, os parlamentares, além de Randolfe e Bolsonaro estavam o senador João Capiberibe (PSB-AP) e as deputada Luiza Erundina (PSB-SP) e Jandira Feghali (PC do B-RJ), além de representantes da comissão estadual da Verdade, o presidente Wadih Damous e Álvaro Caldas; além dos representantes da comissão nacional: Marcelo Cerqueira e Nadine Borged.

No interior do quartel onde funcionou o DOI-Codi, apontado como principal centro de tortura durante a ditadura militar, os representantes da comitiva e o procurador federal Jaime Mitropoulos se recusaram a fazer a visita junto com Jair Bolsonaro.

Enquanto o tema era discutido, eles assistiram em um auditório à história da unidade, que foi apresentada pelos militares. "Eles falaram da inauguração da unidade, mas deixaram de lado o período militar. Logo questionei que faltava um pedaço da história e que não pode ficar para trás", disse Luiza Erundina.

Com o início da visita, o deputado Bolsonaro ficou, inicialmente, em uma sala e depois no pátio da unidade. Enquanto isso, a comissão fazia a visita nas instalações do quartel militar. O grupo foi guiado pelo jornalista Álvaro Caldas, 62, integrante da comissão estadual do Rio e que ficou preso no local durante o regime militar.

"Não dormi bem essa noite. Volto 40 anos depois do momento em que estive aqui. Claro, que muita coisa da estrutura interna foi modificada, mas consegui reconhecer onde ficavam as celas. Esse é o pior local em que estive na vida", recorda Álvaro Caldas.

ATRASO

Marcada para começar às 10h, a visita foi adiada por mais de 1h até a chegada de todos os parlamentares e representantes da comissão. Desde cedo, o deputado Bolsonaro já se posicionava na praça em frente ao Batalhão do Exército para marcar posição, enquanto observava a movimentação de simpatizantes da comissão da verdade e de seus integrantes.

Jovens penduraram em varais fotos de pessoas como o jornalista Mario Alves ou Stuart Angel, filho da estilista Zuzu Angel, que morreram ou desapareceram após passarem pelo DOI-Codi, na Tijuca, zona norte do Rio.

"O Bolsonaro não tem nada a ver com essa pauta. Ele não faz parte da comissão. Hoje é um dia histórico. Pela primeira vez houve uma visita às masmorras da ditadura", afirmou Wadih Damous, presidente da comissão estadual da Verdade.

Durante a visita, cerca de 40 pessoas aguardavam do lado de fora da unidade com gritos de apoio ao movimento e contra a ditadura militar. A presença dos manifestantes dificultava o trânsito na avenida Barão de Mesquita, na zona norte do Rio.


Endereço da página: