Folha de S. Paulo


Assembleia abre CPIs que poupam Alckmin e ignora pedido sobre cartel

No momento em que a oposição a Geraldo Alckmin (PSDB) promove campanha para instalar uma CPI que investigue a atuação de um cartel em licitações de trem e metrô em São Paulo, a Assembleia Legislativa inicia nesta semana a atividade de três comissões que não têm o Executivo estadual como foco.

Propostos por representantes de partidos aliados a Alckmin, os três grupos vão apurar as causas da violência contra a mulher, o desaparecimento de pessoas e a regularidade dos serviços prestados pela AES Eletropaulo. Eles terão 120 dias para apresentar suas conclusões.

Jeff Dias/A2 Fotografia
Governador Geraldo Alckmin em lançamento do projeto Aluno Empreendedor, que pretende beneficiar 2,2 mil alunos
Governador Geraldo Alckmin em lançamento do projeto Aluno Empreendedor, que pretende beneficiar 2,2 mil alunos

Alckmin tem dito que o governo é o principal interessado em esclarecer a atuação do cartel e que quer "toda a transparência" no caso. Apesar disso, os deputados da base governista não assinaram o pedido para a CPI sobre o tema. O PT diz ter 27 apoios, apenas um vindo de um partido aliado ao governo.

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Para ser protocolada, uma CPI precisa da assinatura de 32 dos 94 deputados da Casa. Depois, é inscrita em uma fila e instalada por ordem cronológica, quando outro grupo encerra suas atividades. Apenas cinco podem funcionar ao mesmo tempo.

Para que a comissão sobre os transportes funcionasse, seria necessário então que o plenário aprovasse resolução para que uma sexta CPI pudesse atuar excepcionalmente, o que requer 48 votos.

A bancada se queixa de que a base governista protocola pedidos "sem relevância" para evitar outras apurações. "A posição é apresentar diversos pedidos no primeiro dia da legislatura para inviabilizar CPIs que coloquem em xeque o Executivo", diz Luiz Claudio Marcolino, líder do PT.

Além das três novas, estão instaladas a comissão sobre mercado de autopeças e a que apura abusos de operadoras de planos de saúde, esta suspensa por ordem da Justiça.

"Não é manobra, é estratégia política", afirma José Bittencourt (PSD), que requisitou a CPI das pessoas desaparecidas quando estava no PDT, da base governista. Para ele o principal objetivo do grupo será apurar "qual política o Estado tem para enfrentar essa situação".

"Precisamos ter o diagnóstico para recomendar ações aos órgãos competentes e ter propostas legislativas", diz.

Vanessa Damo (PMDB), autora do requerimento para a CPI da Eletropaulo, diz que a comissão pretende analisar contratos, fiscalizar ampliações da rede e cobrar o cumprimento de resolução que determina a solução de apagões em no máximo 4 horas.

A terceira CPI, da violência contra a mulher, foi proposta por Fernando Capez (PSDB).

Bittencourt e Damo dizem que suas comissões produzirão relatórios finais, o que não aconteceu com as CPIs no lugar das quais os novos grupos foram instalados.

Em agosto, a Assembleia extinguiu três comissões que não atuaram: telemarketing, a pesca predatória e gordura trans, todas propostas por aliados de Alckmin.

Maria Lúcia Amary (PSDB), que pediu a CPI da Pesca, diz que convocou o grupo "diversas vezes", mas que não conseguiu quorum. "Não sei se nenhum deputado se interessou pelo tema", relata.


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