Folha de S. Paulo


'Cometi muitos erros, mas não esses de que me acusam', afirma Dirceu

O ex-ministro José Dirceu disse nesta terça-feira (10) que não considera a análise da possibilidade de embargos declaratórios no mensalão, que deve ser retomada amanhã, na última etapa do julgamento.

Ele deu uma entrevista nesta manhã a um programa da Fundação Perseu Abramo, centro de estudos vinculado ao PT, com transmissão ao vivo pela internet.

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Dirceu afirmou que reconhece seus erros, mas refutou as acusações que o levaram a ser condenado a dez anos e dez meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal.

Após mais de uma hora em que Dirceu falou sobre a conjuntura do país e temas econômicos, o mensalão foi mencionado apenas no último bloco da entrevista, quando foram feitas perguntas enviadas por internautas. O entrevistador Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, disse que havia várias questões sobre como o ex-ministro encarava "esses últimos oito anos em que foi exposto à praça pública" --o mensalão veio a público em 2005-- e "alvo de ataques sem direito a resposta".

Dirceu classificou a denúncia do mensalão como "indébita e vazia" e voltou a mencionar a possibilidade de recorrer a cortes internacionais para questionar o julgamento do Supremo Tribunal Federal.

"Amanhã ou quinta teremos mais um capítulo, talvez o último... não o último, porque depois temos revisão criminal, as cortes internacionais. Vou continuar defendendo o PT e o governo", afirmou.

Ao falar sobre o julgamento, Dirceu apresentava abatimento. Ele agradeceu as manifestações de solidariedade de petistas e militantes de esquerda e chegou a interromper brevemente a resposta ao declarar sua inocência. "Evidentemente que cometi muitos erros e sou responsável por muitos desses erros. Mas não dos que me acusam agora. Desses que me acusam, jamais."

Juca Varella/Folhapress
Condenado no julgamento do mensalão, José Dirceu conversa com amigos no salão de festas do prédio em que mora, em SP
Condenado no julgamento do mensalão, José Dirceu conversa com amigos no salão de festas do prédio em que mora, em SP

Dizendo-se tranquilo e sereno, Dirceu se definiu como vítima de preconceito da elite contra seu partido. "Fui transformado no principal alvo do ódio, da inveja de setores da elite do país que não se conformam com a eleição do Lula, do PT com o papel que o presidente Lula tem no mundo, com a eleição da Dilma. Acabei escolhido para ser o símbolo desse ressentimento que eles procuram disseminar", declarou.

O ex-ministro afirmou que a cassação de seu mandato como deputado federal em 2005, quando retornou à Câmara ao deixar a Casa Civil devido ao mensalão, como "uma nódoa, uma mancha na história do Congresso Nacional". Ele disse ter sido perseguido também ao começar a atuar como consultor após perder os direitos políticos. "Fizeram de tudo para eu não poder trabalhar, para que eu virasse um exilado dentro do Brasil ou saísse do país. Mas me obrigaram a trabalhar como advogado e consultor, porque cassaram meu mandato sem provas", disse.

Dirceu disse ainda que fica "indignado" com especulações de que possa deixar o país, pedindo asilo político no exterior, para evitar o cumprimento da sentença de prisão. Ele afirmou que sua maior paixão é o Brasil, apesar de banido pelos militares, e evocou seu retorno ao país na clandestinidade, durante o regime militar, para dizer que não pretende "fugir".

"Eu corria o risco de ser morto se me pegassem. Por isso que fico indignado quando dizem que eu vou sair do Brasil, que eu vou fugir. Minha luta sempre foi o Brasil", declarou.

"Não se iluda", disse, em close e olhando diretamente para a câmera, ao encerrar a entrevista. "Minha natureza é política. Vou continuar sendo sempre o Zé Dirceu, militante do PT".


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