Folha de S. Paulo


Deputada do PSOL assume crime eleitoral em gravação

A deputada estadual Janira Rocha (PSOL), afastada da presidência regional do PSOL-RJ, reconheceu em reunião com dirigentes do Sindsprev-RJ (Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, Trabalho e Previdência Social do Estado do Rio de Janeiro) que cometeu crime eleitoral com recursos da entidade.

De acordo com a própria deputada, em gravação do encontro, verbas da entidade foram usadas na campanha dela e de ao menos outros três candidatos do PSOL no Estado. A prática é vedada pela legislação eleitoral. A Procuradoria Regional Eleitoral afirmou que vai investigar o caso.

Funcionários exonerados de deputada do RJ são presos por tentar extorquir a ex-chefe

A gravação do encontro faz parte dos documentos que ex-funcionários da deputada queriam vender por R$ 1,5 milhão e apreendidos pela polícia. A assessoria de Janira afirmou que ela não vai se pronunciar até ter acesso integral ao dossiê. O sindicato negou a prática.

"Todo mundo sabe que foi dinheiro para a minha campanha e para todas as outras campanhas. [...] Isso não pode porque é um crime. É um crime tanto do sindicato quanto um crime nosso. Crime eleitoral", disse ela.

Na fala, Janira cita ainda um suposto desvio de recursos do sindicato para outros três candidatos do PSOL. Ela refere-se a Jefferson Moura, eleito vereador no ano passado, Bira, candidato a prefeito em São João de Meriti, e Piano, candidato a vereador em Magé. Jefferson negou ter recebido recursos do sindicato. Os demais não foram localizados até a publicação desta nota.

Janira afirma que relatório produzido pela regional do sindicato na Região dos Lagos tornava público o repasse de verbas aos candidatos do PSOL. Ela diz que o papel, da forma como redigido, levaria à cassação de seu mandato. O documento acabou "interceptado" e não foi a público.

"Se a Cristiane não intercepta o documento da dona Eva lá da [Região dos] Lagos, eu [inaudível]. A minha cassação estava garantida pela forma como ela respondeu o documento: 'Ah, fiz sim, assinei o dinheiro, não vi o dinheiro. O dinheiro passei, aceitei assinar a pedido da Cuca, que era assessora da deputada Janira. Esse dinheiro foi todo para a campanha da deputada Janira. Acabou". Isso na mão do Fabiano [adversário político do grupo de Janira], assinado por ela... Todo mundo sabe que foi dinheiro para a minha campanha, para a campanha do Jefferson, do Piano, de São João. O problema é que é um documento, com papel timbrado de uma regional de um sindicato dizendo que o dinheiro do sindicato foi para a minha campanha", diz ela, na gravação.

Não se sabe a data exata do encontro, mas há indícios que tenha ocorrido no primeiro semestre deste ano. No encontro, Janira tenta contornar uma crise ocorrida dentro do sindicato causada por problemas fiscais da entidade. A deputada era secretária de Finanças do órgão até 2010, quando se licenciou para candidatar-se à vaga na Assembleia Legislativa.

A entidade está sob investigação do Ministério Público Federal por supostamente não ter repassado cerca de R$ 9 milhões ao INSS referente à contribuição previdenciária de seus funcionários. O caso provocou inclusive uma ameaça de greve dos prestadores de serviço da entidade.

Na reunião, a deputada critica a tentativa de rivais de seu grupo no sindicato por tentar divulgar informações que possam comprometer a gestão da qual fez parte. Documento da nova gestão chegou a apontar algumas falhas na administração da entidade. Ela articula a produção de um novo relatório para aprovação das contas, afirmando que deve-se assumir erros, mas não crimes eleitorais.

"Precisamos fazer o relatório que ao mesmo tempo fala as coisas, é um relatório que tem que ser cuidadoso. A gente pode colocar no relatório que o dinheiro foi para atividades políticas, mobilizadora. Não podemos dizer que foi para a construção do PSOL, foi para eleger deputados, eleger o Bira em São João, o Piano em Magé", disse ela.

A deputada reconhece ainda para os membros do partido que o uso de verbas do sindicato para outros fins podem ser considerados crimes.

"Não tem roubo do ponto de vista moral, para nós. Mas quem olha lá de fora, não quer saber se é ação política. Para eles é merda, é roubo", diz ela.

OUTRO LADO

A assessoria de imprensa da deputada afirmou que a deputada não vai se manifestar até ter acesso integral às gravações e documentos em poder da polícia.

O sindicato disse, por meio de nota, que não contribuiu para campanhas eleitorais. "A entidade não promove financiamento de campanhas eleitorais e que não há qualquer resolução dos fóruns da entidade neste sentido", disse em nota.

*

Ouça as gravações:

Ouça

Ouça


Endereço da página:

Links no texto: