Folha de S. Paulo


Assessor do Ministério do Trabalho é preso em blitz da PF contra fraude

Cerca de dois anos após um escândalo de desvios envolvendo ONGs ter derrubado Carlos Lupi (PDT) do comando do Ministério do Trabalho, operação da Polícia Federal chegou ao alto escalão da pasta ontem. Um secretário é suspeito de avalizar ações ilegais de subordinados e um assessor foi preso sob a acusação de receber propina.

Dois gabinetes do ministério em Brasília foram vasculhados durante a operação da PF.

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O suposto esquema que pode desviado R$ 47,5 milhões tinha uma ponta no ministério e outra na ONG Ceat (Centro de Atendimento ao Trabalhador).

Segundo a investigação da PF, o assessor da Secretaria de Políticas Públicas da pasta Gleide Santos Costa atuou para que, mesmo contra a lei e pareceres técnicos internos, fossem assinados aditivos a convênios com o Ceat.

Após se reunir com dirigentes do Ceat na segunda-feira, o assessor foi preso ontem em flagrante em um hotel em São Paulo, com R$ 30 mil que a PF suspeita ser propina.

Costa contou com o auxílio da assessora da pasta Ivana Lúcia Zillig de Paiva, que buscava "manobras técnicas" para emplacar os aditivos, segundo a decisão judicial que autorizou a operação.

De acordo com o despacho de 27 de agosto, "os assessores contam com o aval do secretário de Políticas Públicas do ministério, Antônio Sérgio Alves Vidigal, que demonstrou ter uma relação próxima com Lício de Araújo Vale".

Vale, padre e diretor do Ceat, é apontado como intermediador dos interesses da entidade no ministério.

A verba obtida com os convênios e aditivos foi repassada ao Ceat e deveria ser investida em centros públicos de emprego e a qualificação de trabalhadores. Porém, foi desviada com a ajuda de empresas de fachada administradas pelos próprios dirigentes da ONG.

Parte do dinheiro foi usado para a importação de produtos da China e venda em nas rua 25 de Março e Santa Ifigênia, centros de compras da capital, disse o delegado da PF Alberto Ferreira Neto.

A presidente da ONG, Jorgette Maria de Oliveira, que já foi filiada ao PDT, o diretor Vale e outros cinco dirigentes do Ceat foram presos. Carros e valores em contas dos suspeitos foram sequestrados pela Justiça. Eles são acusados de corrupção, desvio de verbas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

Divulgação/Polícia Federal
Policial apreende documentos durante operação sobre irregularidades no Ministério do Trabalho
Policial federal apreende documentos durante operação que investigou irregularidades em convênios do Ministério do Trabalho com ONGs

OUTRO LADO

O Ministério do Trabalho e Emprego informou que exonerou o assessor da pasta preso pela Polícia Federal e que está colaborando com as investigações das autoridades.

A assessoria da pasta afirmou que abriu procedimento interno para apurar as acusações, porém não se manifestou sobre as acusações feitas contra o secretário de Políticas Públicas, Antônio Vidigal, e a assessora Ivana Paiva.

A defesa do Ceat e de seus dirigentes, conduzida pelos advogados Pedro Ivo Iokoi e Adriano Scalzaretto, aponta ilegalidades na ação da PF.

Segundo os criminalistas, as prisões são "desproporcionais" porque na apuração "não há nada que aponte para qualquer tentativa de destruição de elementos probatórios, coação de testemunhas ou tentativa de fuga".

Para os advogados, as detenções foram ilegais, pois a PF usou só "depoimentos de terceiros obtidos durante a própria operação policial para justificar" as prisões.


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