Folha de S. Paulo


Comissão quer reabrir investigação sobre bomba na OAB

A Comissão Estadual da Verdade do Rio quer reabrir a investigação sobre a explosão de uma carta-bomba na sede da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) ocorrida em 1980. O presidente do órgão, Wadih Damous, classificou o inquérito feito sobre o caso como "uma farsa".

"O inquérito, na nossa maneira de ver, foi uma farsa conduzida pelo SNI [Serviço Nacional de Informação] e o DOI-Codi [Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna]. É um dos episódios que simbolizam a impunidade daqueles crimes", afirmou Damous.

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A carta-bomba matou a secretária da presidência da OAB, Lyda Monteiro, há exatos 33 anos. O episódio foi lembrado nesta terça-feira (27) em seminário na PUC-Rio.

O inquérito à época apontou como responsável pelo caso Ronald Walters, mas ele acabou absolvido por falta de provas. A comissão avalia que ele foi usado como forma de ocultar a participação de agentes da repressão política insatisfeitos com o processo de reabertura em curso na década de 1980.

"A investigação só seguiu uma linha, quando qualquer investigação deve considerar várias hipóteses. Havia um setor, abrigados no DOI-Codi e no SNI, que não queriam a abertura política. Com certeza eles praticaram os atentados na OAB e no Riocentro", disse Damous.

A comissão ainda pretende levantar mais provas para apontar as falhas na investigação para pedir ao Ministério Público a abertura de um novo inquérito.

De acordo com depoimento do agente da Polícia Federal Luiz Antônio da Silva Dutra dado ao Ministério Público Federal há 14 anos, militares participaram e influíram na condução do inquérito, a fim de estabelecer como linha única de investigação o envolvimento de Walters.

Damous aponta ainda que há indícios de que o mesmo grupo participou dos atentados na OAB e no Riocentro, este em 1981. De acordo com ele, o retrato falado de um dos suspeitos da carta-bomba em 1980 assemelha-se ao rosto de Magno Cantarino Motta, conhecido como agente "Guarani", visto no Riocentro logo após a explosão.

O filho de Lyda, o advogado Luiz Felippe Monteiro Dias, afirma também que parentes da secretária da OAB viram o sargento Guilherme Rosário na sepultura da vítima do atentado à ordem poucos meses antes da explosão da bomba no Riocentro.

"Não sei o que ele estava fazendo lá. Mas chamou nossa atenção", disse Dias.

O filho da secretária atribuiu a fragilidade da investigação a uma "teia de concessões". Entre elas está, disse o advogado, um acordo entre partidos políticos e o governo.

"Partidos políticos fizeram acordos com o governo para deixar de lado o atentado e garantir as eleições de 1982", afirmou Dias.

Membro da Comissão Nacional da Verdade, Rosa Cardozo afirmou que uma eventual reabertura do caso pode gerar punição judicial aos autores. Ela disse que o caso não está coberto pela Lei da Anistia, editada em 1979.

"Estamos falando de um fato ocorrido em 1980, posterior à lei


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