Folha de S. Paulo


Análise: Decano vira mediador informal de debates na corte

Quais os desdobramentos institucionais da discussão da semana passada entre os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski?

Na sessão de ontem, ficou evidente o aparecimento de nova figura. Valendo-se da posição de decano do Supremo Tribunal Federal, o ministro Celso de Mello atuou como mediador informal do debate, para fins internos e externos.

Barbosa defende pressa para encerrar julgamento

Internamente, Celso de Mello empenhou-se em adotar atitude apaziguadora. O seu discurso foi preparado com antecedência.

De um lado, parabenizou e elogiou Barbosa por ter afirmado o seu respeito pelo tribunal e por seus integrantes --embora tenha se recusado a se retratar.

De outro lado, ressaltou a importância das divergências e de preservar a independência dos julgadores --em deferência a Lewandowski.

O esforço de conciliação contrasta com a atitude de todos os demais ministros que se manifestaram sobre o assunto, os quais ofereceram desagravos mais ou menos incisivos a Lewandowski.

Chama a atenção que a manifestação de Celso de Mello tenha sido enviada aos jornalistas logo após a sua leitura em plenário.

MENSAGEM

O fato demonstra a preocupação do ministro em passar a sua mensagem de preservação institucional a uma audiência maior do que aquela que estava acompanhando o julgamento ao vivo.

Durante a maior parte da primeira fase do julgamento, as figuras de presidente e de relator eram desempenhadas por ministros diferentes.

Enquanto Barbosa atuava como relator, o então presidente da corte, Ayres Britto, mediava as discussões e dirigia os trabalhos.

Atualmente, Barbosa concentra as duas funções --e essa circunstância pode levar a situações que justifiquem a intervenção de um terceiro.

Em um julgamento colegiado e de extrema relevância como esse, novas discussões acaloradas podem surgir a qualquer momento.

A mediação não está prevista no regimento interno do tribunal.

A sua consagração, no entanto, é mais uma evidência de como elementos subjetivos --como o comportamento dos ministros-- constituem variáveis que podem influenciar o desenrolar de um julgamento e o seu resultado.

EDUARDO JORDÃO é professor da FGV Direito Rio.


Endereço da página:

Links no texto: