Folha de S. Paulo


Governo inicia preparação para exumação do corpo de João Goulart

Representantes do governo federal começaram nesta quarta-feira (21) a preparar a exumação do corpo do presidente João Goulart (1919-1976), firmando acordo com autoridades do município de São Borja (RS) para garantir que os restos mortais permanecerão na cidade gaúcha após o trabalho.

Peritos da Polícia Federal e enviados da Comissão Nacional da Verdade estão na cidade gaúcha para organizar detalhes da exumação, que ainda não tem data certa.

O objetivo da investigação é apurar se Goulart, deposto pelo golpe militar de 1964, foi morto enquanto vivia no exílio, na Argentina.

Técnicos fotografaram a estrutura do mausoléu e fizeram medições no local. O objetivo é montar uma espécie de maquete virtual do jazigo para ajudar nos trabalhos.

Dois pedreiros do cemitério foram ouvidos e deram detalhes do posicionamento do corpo dentro da estrutura. No mesmo local, também está enterrado o ex-governador do RJ Leonel Brizola (1922-2004), que era cunhado de Jango.

Os responsáveis pela exumação pretendem colocar tapumes nas proximidades do jazigo no dia do procedimento para evitar a exposição dos restos mortais. A medida, segundo a comissão, é uma exigência da família do presidente.

Jango morreu em dezembro de 1976, segundo a versão oficial, devido a um ataque cardíaco. A ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos), no entanto, já disse ver uma "possibilidade muito clara" que ele tenha sido assassinado por forças da repressão da ditadura militar.

Na exumação, será investigada a hipótese de envenenamento. Os restos mortais serão analisados em Brasília.

A exumação foi um pedido da própria família de Jango, motivado por denúncia feita pelo ex-agente do serviço de inteligência uruguaio Mário Neira Barreiro, preso no Brasil por crimes comuns no Brasil.

Em 2008, Barreiro disse à Folha que espionou Jango por quatro anos e que ele foi morto por envenenamento a pedido do governo brasileiro.

Em 2010, contudo, o Ministério Público Federal arquivou a investigação sobre a suspeita de assassinato, por considerar os depoimentos de Neira Barreiro "confusos e contraditórios".

Os técnicos estão fazendo durante a tarde desta quarta-feira (21) o reconhecimento do cemitério de São Borja e colhendo informações sobre a sepultura. Não há a intenção de abrir o jazigo hoje.

A decisão de retirar os restos mortais da cidade natal do ex-presidente causou preocupação no município, que fica na fronteira com a Argentina. Autoridades locais e parte da população temem que o corpo não volte ao Rio Grande do Sul.

A prefeitura afirma que isso desrespeitaria a vontade do político, declarada em vida, e sugeriu que a análise fosse feita toda na cidade.

Em reunião nesta terça (20), ficou decidido que um representante do município irá integrar o grupo responsável pelo procedimento e que o assunto será debatido em uma audiência pública.

Na ocasião, será assinado um termo em que o governo federal se comprometerá a levar os restos mortais novamente a São Borja após a perícia.


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