Folha de S. Paulo


Senador Ivo Cassol disse que vai recorrer da condenação do STF

Na primeira manifestação pública desde que foi condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o senador Ivo Cassol (PP-RO) disse nesta quarta-feira (14) que vai recorrer da decisão por não ter cometido irregularidades no período em que foi prefeito no Estado. Cassol chorou em pronunciamento do Senado e disse que vai "continuar de pé" sem permitir que o julgamento "manche a história" da sua vida.

"Não tenho vergonha de andar pelas ruas e olhar nos olhos das pessoas. Não roubei, não desviei recursos, não superfaturei, não paguei obras que não foram executadas. Não cometi nenhum crime. Meus advogados estão esperando a publicação do acórdão para entrar com recurso", afirmou.
Em discurso de quase meia hora no plenário do Senado, Cassol disse que não cometeu fraudes quando prefeito do município de Rolim de Moura (RO).

Ele reconheceu que houve fragmentações de licitações na cidade, mas disse não ter conhecimento de irregularidades nos processos licitatórios.
Segundo o senador, a condenação ocorreu por um "erro técnico" ocorrido enquanto esteve na prefeitura. "O julgamento não vai manchar a história da minha vida. Deixou pontos. Mas não vou cair, vou continuar de pé, mostrando, defendendo e provando que por mais que pareça que houve um erro técnico, eu não errei."

Cassol disse que foi "crucificado" por uma "questão técnica" que era responsabilidade da comissão de licitações do município. "A comissão de licitação tem autonomia para decidir em conformidade com a lei a modalidade que deve ser empregada em cada convênio ou contrato. Os ministros [do STF] reconheceram que não teve desvio de dinheiro, não teve superfaturamento."

O senador disse que não tem vergonha de andar pelas ruas, olhar nos olhos dos eleitores, e chegou às lágrimas ao falar que seus filhos e pais terão sempre orgulho do seu desempenho político. "Meus filhos não terão vergonha de andar pelas ruas com medo de ouvir que são filhos de um ladrão ou corrupto, porque isso nunca aconteceu. Ao contrário, poderão dizer por orgulho que o pai dele foi eleito um dos melhores prefeitos."

O pai do senador, Reditário Cassol, acompanhou o pronunciamento dentro do plenário. Ele é suplente do filho e assumirá o mandato se Cassol for cassado pelos pares --embora não tenha processo tramitando na Casa contra o congressista.

Em defesa do filho, Reditário Cassol disse que "não houve trambique nenhum" cometido pelo senador. "Houve apenas umas empresas lá dos parentes da mulher dele. O importante é executar obras", disse.

APOIO

Cassol recebeu o apoio de diversos senadores, especialmente do seu partido, o PP, após discurso no plenário. Líder do PP no Senado, Francisco Dornelles (RJ) disse acreditar que o Supremo vai rever sua decisão após o recurso apresentado por Cassol.

"Em nenhum momento, Vossa Excelência fraudou recursos. Foi punido por algo meramente formal. Estou certo que todos os seus argumentos e suas ponderações serão considerados pela alta Corte do país", afirmou.

O senador Ciro Nogueira (PP-PI) disse que Cassol não "desviou coisa alguma" e o que a população não deseja dos homens públicos é o desvio de recursos. "Confiamos na sua inocência, esperamos a revisão da decisão do Supremo com o seu recurso", afirmou Nogueira.

Na quinta-feira, o STF condenou Cassol por unanimidade a 4 anos, 8 meses e 26 dias de prisão por crimes cometidos quando foi prefeito de Rolim de Moura (RO), entre 1998 e 2002. O senador fraudou licitações no município e direcionou processos a empresas ligadas a pessoas de sua proximidade.

Além de Cassol, o STF também condenou por fraude em licitações o ex-presidente e o ex-vice-presidente da comissão de licitações de Rolim de Moura, Salomão da Silveira e Erodi Matt, respectivamente. Tal como Cassol, eles também pegaram 4 anos, 8 meses e 26 dias de prisão. De acordo com os ministros, a pena poderá ser cumprida no regime semiaberto.

Durante o julgamento o STF ainda aplicou multa aos condenados. Cassol terá de pagar R$ 201 mil, Silveira e Matt R$ 134 mil cada.


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