Folha de S. Paulo


Governo não consegue acordo, e emendas impositivas vão a votação na Câmara

O governo não conseguiu demover o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB), da intenção de colocar para votação no plenário da Casa um dos projetos que mais preocupa o Palácio do Planalto, tanto em termos econômicos quanto políticos.

Trata-se da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que estabelece a execução impositiva de emendas parlamentares --recursos que os deputados e senadores podem indicar todos os anos para complementar o Orçamento da União. Essas verbas são normalmente voltadas para obras em seus redutos eleitorais, e são costumeiramente usadas como moeda de troca entre Planalto e Congresso para votação de projetos estratégicos.

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Embora não tenha tocado no assunto durante reunião com líderes da sua base de apoio ontem, no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff esperava que os aliados convencessem Henrique Alves a pelo menos adiar a discussão do projeto.

O líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), foi o responsável por levar aos demais líderes da base a proposta de convencer Henrique Alves a recuar de sua intenção. Ontem, o presidente da Câmara já havia dito que a votação do chamado "Orçamento impositivo" era "inegociável".

Pelo cronograma previsto, e que agora deverá efetivamente ser cumprido, o texto será votado em uma comissão especial, na tarde desta terça, e amanhã (7) já estará em condições de ser levado a plenário.

"Nós fizemos várias ponderações para a construção de um entendimento até a próxima semana, não houve acordo e a matéria vai para voto hoje na comissão especial e, amanhã à noite, no plenário", disse o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), após reunião com o presidente da Câmara e líderes partidários.

O petista, no entanto, disse acreditar que, apesar do tempo exíguo, ainda será possível costurar um acordo. O que Guimarães defende --segundo ele, é uma proposta do PT, e não do governo-- é que seja estabelecido um teto de R$ 5 milhões de execução impositiva para cada parlamentar e que o resto esteja atrelado ao desempenho da economia e à arrecadação do governo.

Pedro Ladeira-5.ago.13/Folhapress
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e a presidente Dilma Rousseff em solenidade no Planalto
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e a presidente Dilma Rousseff em solenidade no Planalto

Uma outra saída seria vincular esse saldo remanescente a programas já em execução por parte do governo, mais especificamente o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), saúde e educação.

O líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), disse, no entanto, que não há possibilidade de acordo. Segundo ele, o texto atual, que prevê a execução obrigatória de 1% da receita corrente líquida com emendas parlamentares, já é cômodo para o governo.

Pelas contas do governo, isso significaria uma execução obrigatória de cerca de R$ 11 milhões por parlamentar. Cada um deles pode indicar R$ 15 milhões em emendas. Ou seja, pelo texto proposto, os parlamentares teriam garantido a execução de pouco mais de 70% dos recursos apresentados.

ROYALTIES

Na reunião de líderes, na manhã desta terça-feira (6) no gabinete do presidente da Câmara, ficou definido que ao menos parte da "pauta-bomba" armada pelo Congresso, com potencial danoso contra os interesses do Planalto, está desarmada --ao menos durante esta semana.

O alívio vem da garantia de que a votação do projeto que define a destinação dos royalties do petróleo para a saúde e educação não acontecerá esta semana. O texto aprovado pelo Senado acabou sendo derrubado pela Câmara, que ressuscitou uma versão que contraria o Palácio do Planalto.

A votação desse texto só acontecerá a partir da semana que vem. Nesse caso, o entendimento pelo adiamento veio depois de apelo direto da presidente Dilma.

Na reunião de ontem, Dilma já deixou marcada para a próxima segunda-feira (12) um novo encontro direto com os líderes, em mais um capítulo do esforço para estreitar a relação com os partidos que compõem a sua base de apoio no Congresso. Nessa reunião, será discutido um eventual texto de consenso em relação aos royalties. O governo insiste em vincular 100% desses recursos a investimentos em educação.

VOTAÇÕES

Como a pauta de votações na Câmara está trancada pelo projeto que define as novas regras para a mineração, os líderes e o presidente Henrique Eduardo Alves chegaram a um acordo no qual apenas Propostas de Emendas Constitucionais (que podem "furar a fila") serão votadas esta semana --nenhuma delas dentro da chamada "agenda positiva" criada a partir das manifestações de rua.

Na lista definida entre os líderes, há uma certa, e outra que ainda é dúvida. A garantida é a PEC 190, que reestrutura a carreira dos servidores do Poder Judiciário. A outra, ainda em discussão, é a PEC 504, que coloca o cerrado e a caatinga como biomas da mesma importância da floresta amazônica e da mata atlântica.

O governo admite tirar a urgência sobre o código de mineração, mas só deve fazer isso na quinta-feira, o que inviabiliza, na prática, que outras matérias sejam votadas em plenário ainda nesta semana.


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