Folha de S. Paulo


Segurança do papa é mais difícil e complexa que a Copa, diz ministro

O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) afirmou nesta segunda-feira (29) que garantir a segurança do papa Francisco foi mais "difícil e complexo" do que será na Copa 2014.

Para Cardozo, a Jornada Mundial da Juventude, que de acordo com a organização reuniu cerca de 3 milhões de pessoas no Rio durante uma semana, é um evento muito diferente do ponto de vista da segurança pública. "Foi uma situação de grande risco", disse, se referindo, em especial, às exigências do próprio papa para flexibilizar o esquema de segurança e às paradas inesperadas em meio à multidão.

"O trabalho de segurança é mais difícil e mais complexo do que foi feito na Copa das Confederações e me parece que mais difícil do que será na Copa do Mundo", disse, explicando que se trata de um evento de massa onde não se sabe de onde vem e para onde vai a multidão. Além disso, afirmou o ministro, foi uma recepção de um chefe de Estado que é líder religioso e atrai multidões pelo seu carisma. "Em certos momentos, pelo inesperado, nossos dedos ficavam gelados", disse o ministro da Justiça.

FALHA DE COMUNICAÇÃO

Problemas de organização marcaram toda a Jornada Mundial da Juventude, que terminou nesse domingo (28) com missa em Copacabana celebrada pelo papa Francisco. As falhas do evento começaram pouco mais de meia hora depois do desembarque o papa no Brasil, na segunda (22).

Um engarrafamento prendeu o comboio papal, que saiu da base aérea do Aeroporto Internacional do Galeão, na Ilha do Governador, com direção à Catedral Metropolitana, no centro do Rio. A Polícia Federal mobilizou 700 homens para trabalhar diretamente na segurança do papa, sendo que 48 atuaram diretamente junto ao pontífice.

Ainda assim, o carro que levava Francisco foi cercado por centenas de pessoas, para desespero da equipe de segurança. A comitiva errou o trajeto e expôs o papa a um risco desnecessário. Em vez de seguir pela pista do meio da avenida Presidente Vargas, o comboio papal pegou a pista do canto, onde centenas de ônibus que tinham sido desviados da outra pista estavam parados.

Na ocasião, Cardoso afirmou que o problema ocorreu por um erro na comunicação entre o centro de controle do governo do Estado e a prefeitura.

Nesta segunda, ele admitiu que houve uma falha, mas insistiu que a responsabilidade foi de funcionários da prefeitura carioca.

"Lamentavelmente houve uma desconexão [de comunicação]. A pessoa da prefeitura não repassou o briefing exposto pela manhã ao centro de controle de trânsito. Aqueles ônibus não poderiam estar lá. Aquilo nos surpreendeu", disse Cardozo, ponderando que, apesar da tensão, policiais que estavam ao lado do papa classificaram a situação como serena.

"Houve aquele problema, mas não houve risco. Foi sanado e corrigido", garantiu Cardozo, informando que os funcionários da prefeitura foram substituídos.

MUDANÇAS DE ÚLTIMA HORA

Nesta segunda, o ministro afirmou que o plano de segurança do papa foi alterado duas vezes em uma semana.

Uma semana antes da abertura, o papa avisou que não iria usar um papa móvel blindado. Dois dias antes, contudo, veio a notícia de que Francisco queria um carro comum e iria andar com as janelas abertas. O papa também não aceitou usar um helicóptero.

Francisco participou de 20 eventos, todos com longas distâncias a serem percorridas, segundo o ministro.

"Foi um esforço vigoroso de segurança pública", dizendo que câmeras e helicópteros acompanharam todos os passos do papa.

MAIS PROBLEMAS

Os problemas, contudo, não se limitaram à questão de segurança. Dificuldades com o transporte público, por exemplo, se repetiram praticamente durante todos os dias de jornada.

Na segunda (22), dia da abertura oficial do evento, o metrô ficou parado por mais de duas horas. A pane, provocada por um rompimento de um cabo de energia, atrasou a chegada de peregrinos à missa inaugural. Apesar de ter sido montado um esquema especial para a venda de bilhetes de metrô com horários pré-determinados, longas filas e superlotação durante praticamente todos os dias foram alvos de crítica dos fieis.

Os peregrinos também reclamaram dos banheiros químicos colocados em Copacabana para atender quem participou da vigília de sábado para domingo. Além da escassez, alguns banheiros vazaram espalhando mau cheiro.

A estrutura da vigília foi improvisada porque feira, a prefeitura decidiu transferir a vigília e a missa de encerramento da jornada para a orla depois que fortes chuvas alagaram Guaratiba, preparada inicialmente para ser o destino da peregrinação de 13 quilômetros e palco do fim do evento.

Também houve protesto e confronto entre manifestantes e polícia, com muitos presos e feridos nos arredores do Palácio Guanabara, sede do governo estadual do Rio, onde jovens pediam a renúncia do governador Sérgio Cabral.

Na sexta-feira, o prefeito Eduardo Paes deu nota "perto de zero" no quesito organização do evento para jovens católicos.

BALANÇO POSITIVO

Apesar dos problemas, para o governo federal, o balanço final da jornada é positivo.

O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) afirmou que a presidente Dilma Rousseff ficou satisfeita em especial com a segurança do evento. Ele reconheceu as falhas, principalmente no sistema de transporte, mas afirmou que elas "nem de longe apagaram o brigo e o sucesso" da jornada.

A estrutura de segurança mobilizada pelo governo federal empregou 6.008 profissionais de segurança, entre policiais e homens da Força Nacional.

Segundo balanço divulgado nesta segunda, foram usadas 685 viaturas, cinco helicópteros lanchas, botes, e até Jet-skis. Mais de 9,7 mil ônibus foram vistoriados, o que equivale à metade da frota legalizada do país. Desses 3 mil foram notificados e 95 retidos.

A PRF (Polícia Rodoviária Federal) registrou apenas três acidentes nas estradas federais, sem vítimas entre os peregrinos.

Ainda não se sabe quanto o governo federal gastou com o evento. A contabilidade está sendo fechada. "Vou adiar um pouco a informação a respeito disso", disse Cardozo.
Tanto Cardozo quanto o ministro Celso Amorim (Defesa) destacaram a sintonia entre as forças de segurança do governo federal, estadual e municipal.

Amorim disse que 13,7 mil militares foram mobilizados. Afirmou ainda que, além do artefato explosivo em Aparecida (SP), a equipe de segurança suspeitou, em pelo menos duas oportunidades, de objetos no Rio de Janeiro. Nenhum explosivo, contudo, foi identificado.


Endereço da página: