Folha de S. Paulo


Rezem por mim e até breve, diz papa Francisco ao deixar o Brasil

O papa Francisco encerrou sua visita de uma semana ao país com um discurso de agradecimento no Aeroporto de Galão, no Rio de Janeiro, na noite deste domingo. Ele entrou no avião por volta das 19h20 e chegará a Roma na segunda-feira.

No 14º pronunciamento feito no país, o pontífice disse já estar com saudades do Brasil. Lembrou da prece que fez a Nossa Senhora Aparecida para todos os brasileiros e, mais uma vez, dirigiu a palavra aos jovens, através de quem, disse, o mundo espera uma "nova primavera".

"O papa vai embora e lhes diz 'até breve', um 'até breve' com saudades, e lhes pede, por favor, que não se esqueçam de rezar por ele", falou a uma plateia de convidados no aeroporto.

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A Jornada Mundial da Juventude, que se estendeu pela última semana no Rio, marcou a primeira viagem internacional de Francisco. Primeiro papa latino-americano, o argentino assumiu o posto no início deste ano após a renúncia de Bento 16.

Em discurso proferido em Aparecida (SP), o pontífice prometeu voltar ao Brasil em 2017, ano do aniversário de 300 anos da Nossa Senhora de Aparecida.

SANTO PADRE DO 'POVÃO'

Francisco praticou seu estilo simplista nos compromissos que cumpriu ao longo dos dias da Jornada. Esforçou-se para discursar em português, usando palavras fáceis e expressões coloquiais para se aproximar dos peregrinos.

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Surpreendeu logo no primeiro dia ao optar por um carro comum para os deslocamentos, em que deixou a janela aberta para cumprimentar fiéis ao longo do caminho. Por onde passou, beijou mais de uma dezena de crianças. Chegou a ser chamado de "santo padre do povão" por um peregrino que se confessou com o papa.

Associando a religião ao futebol, o pontífice chamou os jovens de "atletas de Cristo" e os convocou a ir as ruas e protestar. "Eu peço que vocês sejam revolucionários, que vão contra a corrente. Peço que se rebelem", afirmou em agradecimento aos jovens voluntários da Jornada neste domingo.

Em discursos anteriores, o papa já havia mencionado os protestos, além de críticas sobre questões sociais e políticas --em uma das ocasiões, pediu a reabilitação da política, por exemplo.

Não faltaram também palavras mais duras sobre a igreja e o seu papel na sociedade, em especial nos encontros com bispos e religiosos. O pontífice repetiu diversas vezes que a igreja não pode correr o risco de se tornar uma ONG.

"Na América Latina e no Caribe, existem pastorais distantes, pastorais disciplinares que privilegiam os princípios, as condutas, os procedimentos organizacionais...obviamente sem ternura, sem carinho", afirmou a bispos, pendido que se aproximem dos fiéis e da comunidade.

MULTIDÕES

Carismático, Francisco carregou multidões --foram mais de 3 milhões em duas ocasiões em Copacabana-- nos eventos em que esteve.

Administrar tamanho fluxo de pessoas foi o maior desafio ao longo da Jornada. Falhas de infraestrutura, como no metrô e em banheiros, foram reconhecidas pelas autoridades, mas consideradas normais diante de uma multidão e, por vezes, pelos próprios fiéis, que consideravam parte da peregrinação.

Até mesmo a mudança do local da vigília --evento mais esperado da Jornada-- de Guaratiba para Copacabana devido à chuva foi minimizada quando o pontífice atribuiu a uma vontade divina.

Antes de partir, o papa Francisco anunciou o local da próxima Jornada: Cracóvia, na Polônia, uma homenagem a João Paulo 2º, papa polonês que criou o evento dos jovens.

*

PRINCIPAIS FRASES DO PAPA FRANCISCO NO BRASIL

"Deus é brasileiro e vocês queriam um papa? "
ainda no voo para o Brasil, brincando com jornalistas

"Queria bater em cada porta, dizer 'bom dia', pedir um copo de água, beber um cafezinho, e não um copo de cachaça"
arrancando risadas da público em Manguinhos

"Estou fazendo como você falou: não estou respeitando as regras e fazendo a maior bagunça"
em conversa bem-humorada com o "professor" Paes, prefeito do Rio

"Não é deixando livre o uso das drogas que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência química"
condenando propostas de legalização das drogas

"Saiam às ruas como fez Jesus"
pedido feito pelo papa aos jovens em seu discurso na praia de Copacabana no sábado

"Jesus nos oferece algo muito superior que a Copa do Mundo!"
fala de Francisco ao convocar os fiéis a se transformarem em "atletas de Cristo"

"O futuro exige hoje reabilitar a política, uma das formas mais altas de caridade."
disse, de improviso, durante discurso feito à sociedade civil no Theatro Municipal do Rio

"A igreja sabe ainda ser lenta no tempo para ouvir, na paciência para costurar novamente e reconstruir? Ou a própria igreja já se deixa arrastar pelo frenesi da eficiência?"
questionou Francisco durante discurso feito a bispos brasileiros

"Não há lugar para o idoso, nem para o filho indesejado; não há tempo para se deter com o pobre caído à margem da estrada. Às vezes parece que, para alguns, as relações humanas sejam regidas por dois dogmas modernos: eficiência e pragmatismo."
disse Francisco em missa para o clérigo na Catedral Metropolitana do Rio

"Candelária, nunca mais. Violência, nunca mais, só amor"
disse o pontífice em encontro com oito menores infratores no Palácio São Joaquim

"Não é deixando livre o uso das drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência química."
afirmou o papa, em discurso no hospital São Francisco de Assis

"Eu quero agito nas dioceses, que vocês saiam às ruas. Eu quero que a Igreja vá para as ruas, eu quero que nós nos defendamos de toda acomodação, imobilidade, clericalismo. Se a Igreja não sai às ruas, se converte em uma ONG. A igreja não pode ser uma ONG"
disse papa, em espanhol, em discurso a argentinos na Catedral Metropolitana do Rio


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