Folha de S. Paulo


Fitas e montes de areia dividem delegações de países em Copacabana pré-vigília

A transferência da Jornada Mundial da Juventude da enlameada Guaratiba para a praia de Copacabana não poderia deixar os peregrinos mais felizes, perdendo apenas para os comerciantes da orla.

Diante de um dos cartões postais mais famosos do mundo, centenas de fiéis deram mais uma prova de fé e chegaram cedo para garantir um bom lugar para ver o papa Francisco, que hoje abre uma vigília às 19h30 que atravessará a noite.

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Poucos dormiram na praia de sexta para sábado, se guardando para a jornada de hoje, mas centenas de peregrinos, de várias nacionalidades chegaram muito cedo para marcar território. "Pisar nas coisas é anticristo!", gritava um peregrino que não conseguiu evitar que uma turma grande que chegava à praia sujasse suas coisas espalhadas pelo chão.

Os tradicionais montinhos feitos pelas mulheres na praia, como se um fosse um travesseiro, ganharam nova versão na Jornada, transformando-se em tentativas de levantar fronteiras entre as delegações dos milhares de países presentes.

"É uma maneira de marcar os grupos, mas não tem separação, todos entram", explicava a voluntária Edniéia de Queiroz, 42 anos, de Niterói. Desde às 6h, ela ajudava os peregrinos que chegavam, ora dos alojamentos, ora da peregrinação desde a Central do Brasil, a se instalarem na areia.

Além dos montinhos, faixas amarelas tentavam, em vão, "fechar" o espaço de cada grupo, mas a iniciativa estava sendo desestimulada pelos voluntários, que se empenhavam em deixar uma parte do caminho livre para os peregrinos que iam chegando.

Apesar da proibição, dezenas de barracas de camping também compunham o cenário, que com a aparição vez ou outra do sol, era a toda hora "louvado". Muitas abrigavam apenas comida, cobertores e sacos de dormir.

AMERICANOS

"Dono" de um dos territórios mais bem marcados, com bandeiras e faixa amarela, um grupo de 200 americanos de New Jersey era um dos mais animados. Desde às 6h no local, Alexis Arriaza, de 14 anos, só pensava na hora que veria o papa de perto.

Mesmo tendo tido que esperar 8h no aeroporto quando chegou à cidade, e considerar a infraestrutura montada pela Prefeitura do Rio "um problema" para a jornada, Arriaza considera "uma bênção" estar no Rio.

No mesmo grupo, o candidato a padre Fernando Vivas, 28, nicaraguense que mora em Boston, afirmou que "era um milagre" ninguém ainda ter ficado doente no grupo, com tanta chuva e problemas de transporte.

"Mas faz parte da peregrinação, só não se pode perder a alegria. Os jovens americanos têm tudo, é bom ver como se passa fora de casa", explicou.

Perto de Vivas, a "Verão Vermelho" também era só alegria. Com o tempo chuvoso e nenhuma perspectiva de praia nos últimos dias, além de meses impedido de trabalhar por causa da montagem do palco, Sebastião Luis Firmino confessava que não tinha do que reclamar.

"Ficaram dois meses montando esse palco e agora estou correndo atrás para compensar o prejuízo. Eles não compram muito, mas compram, só tenho a agradecer", disse.

Como bom cristão, cobrava mais barato que a barraca vizinha e cobrava R$ 10 pelo aluguel da cadeira e R$ 10 pelo aluguel das barracas de praia. A cerveja ficou fora do seu isopor pela falta de demanda e a expectativa era vender refrigerante, água e biscoitos.

Denise Luna/Folhapress
Peregrinos montam barracas nas areias de Copacabana para participar da vigília, que acontece à noite
Peregrinos montam barracas nas areias de Copacabana para participar da vigília, que acontece à noite

Ao lado, o vendedor Adílson Oliveira cobrava R$ 20 pelo aluguel dos mesmos itens.

Sérgio Lucas e Robson Oliveira, vendedores ambulantes que há 30 anos viajam pelo Brasil atrás de eventos, comemoravam o tempo ainda um pouco nublado que estava facilitando a venda de plástico preto (R$ 20 4mt x 4mt) aos fiéis que passarão a noite em vigília, além de bancos (R$ 20) para evitar sentar na areia molhada.

Até as 10h, eles já tinham vendido 800 metros de plástico e torciam para o tempo fechar ainda mais.

LONGAS DISTÂNCIAS

Sem medo do frio e da chuva, a irmã Jeana Maria, de 25 anos, de Pernambuco, acompanhava um grupo de 80 freiras e 20 padres, mas nem todos fariam vigília. "Ainda não sei, estamos cuidando também dos eventos fora daqui e a infraestrutura está muito ruim, não sei se vai dar", informou.

Ela reclamou que os eventos da Jornada ficaram muito espalhados pela cidade, e que era impossível participar das atividades no Riocentro, zona oeste. "É um outro Rio, muito longe", disse a irmã, admitindo "que o que compensa é o valor espiritual do evento".


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